Caldas Sport Clube 1954/55

Caldas Sport Clube 1954/55

segunda-feira, 28 de março de 2016

Entrevista com JÓZSEF SZABÓ, treinador do Caldas (Época 1955/56)

Na edição do Jornal "A BOLA", do dia 08 de Março de 1956, foi publicada uma pequena entrevista com ZSEF SZABÓ - ou JOSEPH SZABO, ou ainda JOSÉ SEZABO, ou simplesmente JOSÉ SZABO, conhecido, igualmente por estes dois últimos nomes, ao ter, entretanto, adquirido a nacionalidade portuguesa -, treinador do Caldas SC - que segundo a edição do Jornal "A BOLA", de 30 de Julho de 1955, tinha celebrado um contrato válido por dois anos, que acabou por não cumprir, saindo no fim da época de 1955/56 (voltaria a treinar o Caldas, na época 1959-1960, já na II Divisão), recebendo «luvas» (valor adicional que costumava ser pago no início do contrato) no valor de 30 contos (30 mil escudos) e auferia mensalmente 5 contos (5 mil escudos) - , e antigo treinador do Sporting Clube de Portugal (entre as épocas 1936-1945; 1953-1954 - colaborando com Tavares da Silva; e 1964-1965 - também em colaboração com Anselmo Fernandez e Armando Ferreira, onde nestes anos todos viria a ganhar 6 Campeonatos de Lisboa, 2 Campeonatos Nacionais, 1 Campeonato de Portugal, 1 Taça de Portugal e 1 Taça Império), depois do jogo que o Caldas realizou com o "seu" Sporting, referente à 21.ª Jornada (vide ficha e crónica deste jogo, referente à época 1955/56: 2.ª volta), tendo por título: "Uma opinião...A Equipa do Sporting é a noite comparada com o dia".

Afirmando na altura de uma forma directa e sem nenhuns rodeios, o seguinte: ...O pior resultado (no Caldas vs Sporting) que poderia esperar seria um empate! os rapazes (do Caldas) jogaram com alma e fizeram tudo para não perder - foram as suas primeiras espontâneas declarações.

Como aprecia o rendimento da equipa (do Caldas)?
- A equipa do Caldas S.C. tem um conjunto bom e que cumpre na medida do possível. Muito fazem eles, pois não é em cerca de seis meses que se consegue dar verdadeira classe a uma equipa que iniciou o campeonato com alguns jogadores habilidosos, sim, mas inexperientes! E o treinador dos caldenses recordou fases do jogo em que essa inexperiência foi bem flagrante, fazendo perder golos. Numa delas Carlos Gomes deitou as mãos à cabeça, julgando a bola dentro da rede!...
Como aguarda a equipa os futuros jogos?

- Os rapazes sabem dominar a bola, sabem fintar, sabem passar, e, não os considero inferiores aos outros! Estão conscientes do seu valor e, por isso, o seu moral não está enfraquecido. Mas –continua – temos de ser francos: São «azelhas» diante das balizas! Falta na frente um orientador, um criador de jogo (e nesta altura foram recordados Calicchio e [Pedro] La Vega), alguém que se sacrifique durante hora e meia para ser o servidor dos seus companheiros, que tenha o espírito de sacrifício suficiente para não se querer salientar e pensar antes em servir!. - (E continua) O jogador português tem a tendência para driblar! Ora isto é um recurso e, só como tal, deve ser utilizado! O que é preciso é permuta de bola, pois o drible atrasa o jogo! E a rematar esta série de considerações: - Os dribles são o cancro do futebol português.
Perguntámos a seguir: O Caldas mantém-se em posição considerada delicada. Diga-nos: Espera alcançar alguns pontos fora de casa?

- Dentro ou fora, hão-de fazer-se ainda 3 pontos, pelo menos.
Acha que o Caldas cairá no 13.º lugar?

- A infelicidade não há-de estar sempre atrás da porta, e ela já nos acompanha há muito tempo…Os rapazes jogam tanto como os outros; apenas repetiu-lhes falta coragem, e decisão frente às balizas!
E se tiverem de efectuar o jogo de passagem? (refere-se ao jogo de competência que terá de efetuar com o 2.º classificado da II Divisão)
 
- Não penso nisso! Não encaro esse perigo. Os rapazes, mesmo, devem pensar, que não podem ver-se nessa situação. Por isso, daqui os exorto a que joguem sempre como jogaram no domingo passado (refere-se ao tal jogo do Sporting, no Campo da Mata). Os pontos forçosamente hão-de aparecer, dentro ou fora de «casa». E em ar de confidência: Todas as noites rogo para que a rapaziada se salve da crise por que está passando! Formou-se uma atmosfera pesada em cima deles, em consequência dos últimos resultados, o que considero injusto. E concluiu, afirmando: - Espero justiça para estes rapazes disciplinados, bons e modestos, que mais não fazem porque não podem e aproveito a oportunidade para daqui lhes render o meu sincero pleito de homenagem.


József Szabó


quinta-feira, 3 de março de 2016

1.ª Divisão - Época 1955/56: 2.ª Volta

# 14.ª Jornada – CALDAS, 3 – V. SETÚBAL, 1 (15 de Janeiro de 1956)

Na crónica do jornalista Rebelo de Carvalho, publicada no Jornal “A Bola”, no dia 16 Janeiro de 1956, titulava-se: “Os golos do vencedor foram «copiados» do mesmo desenho”.

Campo da Mata, em Caldas da Rainha,


Árbitro: Eduardo Gouveia, de Lisboa,


CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Piteira e Fragateiro (capitão); António Pedro, Romero e Martinho; Anacleto, Orlando, Bispo, Romeu e Lenine. Treinador: József Szabó.

VITÓRIA FUTEBOL CLUBE (VITÓRIA DE SETÚBAL): Baptista, Jacinto e Orlando; Vaz, Emídio Graça e Hilário; Soares (capitão), Corona, Fernandes, Miguel e Diogo. Treinador: Rino Martini.

Na primeira parte: 1-0:


Aos 41 minutos, António Pedro fez um passe lateral para Anacleto o qual cruzou a bola sobre a esquerda, em «balão», a cair em frente da baliza. BISPO antecipou-se a Vaz e Graça e «fintou» o guarda-redes adversário com um toque de cabeça.

Na segunda parte: 2-1:


O segundo golo dos caldenses foi marcado por ORLANDO, também com um golpe de cabeça, aos seis minutos (51 minutos) e com «desenho» semelhante ao do anterior. Martinho marcou um «livre» do lado esquerdo e mandou a bola em arco, a cruzar para a direita. Os defensores visitantes pararam e permitiram que o n.º 8 do Caldas (Orlando “Barek”) desviasse o esférico para dentro da baliza.

Aos 25 minutos (70 minutos): 2-1. Dois pontapés, em jeito de remate, foram devolvidos pela defesa caldense. Na segunda recarga, CORONA, da entrada da grande área, rematou a bola, com um pontapé fortíssimo frontal.

Seis minutos depois (76 minutos), surgiu o último tento da partida – terceiro da turma visitada. Martinho marcou novo «livre» no mesmo estilo (bola a cair) e Orlando, com a cabeça, tirou a bola da «caixa» feita pelas mãos de Baptista e deu-lhe a direcção de ANACLETO. Baliza vazia – e golo…


CRÓNICA DO JOGO (Jornal “A BOLA”): Dado o estado do terreno, fustigado por várias bátegas (de água), não há dúvida de que o processo usado pelos caldenses foi o mais apropriado. Bola lançada em curva acentuada (no vulgo em «balão») de modo a cair uns metros á frente de Baptista, fora do alcance da sua primeira passada, e um avançado a «discutir» o lance, com a cabeça. A defesa setubalense reincidiu sempre no mesmo erro, ficando alguns dos seus componentes…a «observar» a jogada. Numa palavra indecisão comprometedora, com sacrifício de um guarda-redes (Baptista), directamente culpado num golo. Nos restantes esperou, naturalmente, a intervenção dos colegas. Esta repetição «escandalizou» exactamente pela insistência mas se é verdade que foi ela que gerou a vitória do Caldas, também não é mentira que os visitados formaram a melhor equipa do terreno…Atendendo ao estado do terreno, jogou-se muito, para além do previsível e ambas as equipas «duraram» o desafio inteiro, deixando boa impressão quanto à sua preparação. E das duas ainda foi a das Caldas que venceu no confronto, por ter tomado para si a maior activa…Mas enfim, o Caldas, que andou durante muito tempo, a jogar «supondo-se» em terreno seco, foi abrindo os olhos e os avançados receberam benéfica inspiração de António Pedro e Martinho (médios!). Os primeiros da equipa a visarem o alvo de longe, a experimentar a segurança e o encaixe de Baptista com bola escorregadia…A Vitória do Caldas posto que construída na base de um conjunto homogéneo, que esteve patente aos olhos de todos, assentou em alicerces cujas primeiras pedras foram fornecidas, pela movimentação constante «à frente e atrás» dos médios laterais…António Pedro e Martinho seguiram em apoio dos avançados, amparando-os em lances que exigiam a devolução de bola e aguardando as jogadas de ressaca para fazerem o seu retorno. «Foi deles» uma larga zona para um e outro lado da linha de meio campo…Eis um dos motivos principais porque os caldenses pareciam em maior número, porque tiveram mais tempo a bola nos pés e porque…ganharam…Tudo visto e ponderado, deduz-se que claramente que os caldenses ganharam a partida mais no aspecto táctico do que no aspecto técnico…O grupo visitado foi bastante mais pujante a defender, apesar de contar com algumas unidades fora do «seu sítio». Romero, a defesa central, actuou como se houvesse nascido, naquele lugar. Uma exibição brilhante a conter absolutamente (ou quase) o avançado-centro contrário. Preciosos os seus «golpes» de cabeça – pela força e direcção. Piteira e Fragateiro acompanharam muito bem aquele esteio. A linha de ataque caldense, não foi mais prática do que a contrária…O que esteve foi mais acompanhada…[Em suma] No Caldas, mais ou menos todos no mesmo nível, pressentindo-se que não gostam de jogar em terreno enlameado; cumprindo, no entanto.


# 15.ª Jornada: ATLÉTICO, 1 – CALDAS, 1 (22 de Janeiro de 1956)

Na crónica do jornalista Silva Resende do Jornal “A Bola”, publicado no dia 23 de Janeiro de 1956, titulava-se: “Também a sorte «jogou» contra a equipa lisboeta”.

Estádio da Tapadinha (Alcântara), em Lisboa,

Árbitro: Pinto Coelho (Faro),


ATLÉTICO CLUBE DE PORTUGAL: Correia; Tomé e Barreiros; Orlando, Lopes e Castiglia; Mesiano; Marinho, Abel, Legas e Rosário. Treinador: François Szego.

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Piteira e Fragateiro; António Pedro, Romero e Amaro; Romeu, Orlando, Bispo, Martinho e Lenine. Treinador: József Szabó.

Na primeira parte: 1-0,


O primeiro golo da partida foi obtido aos 26 minutos pelos locais. Rosário marcou um «canto» de direita e Rita socou a bola para a frente. LEGAS fez a recarga com êxito.

Na segunda parte: 0-1,


Os visitantes empataram aos 11 minutos (56 minutos) da segunda parte num lance que se assemelha ao dos adversários: centro de Romeu, blocagem em falso de Correia, e recarga vitoriosa de MARTINHO.


Resultado: empate a uma bola.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal “A BOLA"): A reduzida assistência que ontem esteve na Tapadinha deve ter saído desconcertada com o jogo e o resultado…Queremos dizer que se os alcantarenses mereceram um golo, os caldenses votados a tarefa defensiva e falhos de garra e iniciativa no ataque, só o teriam merecido se ele lhes não rendesse o prémio excessivo de igualdade…O Caldas terá pretendido assim acautelar um empate, mesmo sem golos…António Pedro teve de executar, só, essa tarefa não chegando assim para a equipa como fonte alimentadora de lances defensivos…Pelo que conhecemos da turma do Caldas, o jogo de ontem não deu em relação ao ataque expressão justa das suas possibilidades. O quinteto dianteiro [Romeu-Orlando-Bispo-Martinho e Lenine], manietado pelo adversário e carecido do indispensável apoio, esteve sempre mais ou menos emperrado, se exceptuarmos alguns lances de Martinho. Cremos mesmo que nalgumas jogadas lhe terá faltado ousadia para se aventurar no terreno e explorar algumas falhas da defesa local. No sector defensivo a pujança atlética foi a nota dominante, Fragateiro e Romero, embora com alguns despachos incertos, impuseram-se bem aos adversários. Já o mesmo não se pode dizer de Piteira, que foi desfeiteado pelo extremo-esquerdo contrário [Abel?], ao ponto de haver provocado, de parte de Martinho pedido de providências… Rita, sempre bem, excepto no lance que resultou golo, por ter socado a bola de molde a proporcionar remate frontal. Os médios tiveram tarde diversa, mas António Pedro foi mais regular e eficaz que Amaro.


Equipa do Caldas, que empatou na Tapadinha, antes do início do jogo, em 22 de Janeiro de 1956. Em pé, da esquerda para a direita: Piteira, Romero, António Pedro, Fragateiro, Amaro e Rita. Agachados, da esquerda para a direita: Romeu, Orlando, Bispo, Martinho e Lenine. Fonte: Jornal "A Bola", que tinha como legenda: "Equipa de Valor - O Caldas S C. veio da II Divisão e está a fazer excelente prova entre «os maiores»".


# 16.ª Jornada: CALDAS, 0 – SP. BRAGA, 0 (29 de Janeiro de 1956).

Na crónica do jornalista Acácio Correia do Jornal “A Bola”, publicado no dia 30 de Janeiro de 1956, titulava-se: Primeiro ponto ganho «fora» pela equipa minhota”.

Campo da Mata, nas Caldas da Rainha,

Árbitro: Fernando Valério, de Setúbal,

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Piteira e Fragateiro; António Pedro, Leandro e Romero, Romeu, Orlando, Bispo, Martinho e Lenine. Treinador: József Szabó.

SPORTING CLUBE DE BRAGA: Cesário; José Maria II e Frade; Antunes, José Maria I e Armando; Baptista, Vélez, Mário Imbelloni; Gabriel e Miguel Cabrera (Espanhol). Treinador: Eduardo Viso Abella (Espanhol).

Por ser esta a primeira visita do Sporting de Braga ás Caldas da Rainha, os visitantes foram alvo de homenagens por parte da Direcção do grupo local e de um grupo de minhotos ali residentes.

As duas equipas ficaram a dever golos a si próprios, desperdiçando oportunidades em série. Na primeira parte, Cabrera chegou a introduzir, por duas vezes, a bola na baliza de Rita mas, de ambos os casos, os lances foram inutilizados: o primeiro por «off-side» (fora de jogo) do marcador; e o segundo por falta do mesmo n.º 11 visitante. No segundo tempo, a mais espectacular perdida nasceu de um «bico» de Lenine, desferido aos 68 minutos e que levou a bola à trave.

CRÓNICA DO JOGO (Jornal “A Bola”): … O empate reflecte, quase com fidelidade, o equilíbrio de forças verificadas ao longo dos 90 minutos. No entanto, a única nota discordante está no zero do marcador. Estaria certo sim, um empate, mas com golos dum lado e de outro, que são os golos o sal e a pimenta dos jogos de futebol. Faltou apenas isso para que a partida disputada em toada viril, rija e dura – sem, no entanto, cair na violência – tivesse deixado melhores recordações a quem presenciou. É que poucos foram, diga-se a talho de foice. Para essa toada, contribuíram o empenho que os visitantes denunciaram desde o início e o futebol largo, aberto, característico dos visitados…Soubessem os avançados da «casa» explorar essa oscilação inicial (do Braga), e é muito possível que cavassem a derrocada de uma equipa de moral débil. Mas não estavam em veia os avançados das Caldas com um Bispo desastrado e um Martinho agarrado à bola e a desgastar-se a pouco e pouco, até acabar a extremo…Afinal esse mesmo Martinho que teve o primeiro remate, de causar calafrios, atirando, porém, a bola por cima da barra, como que a demonstrar o que convinha fazer, mas lição essa que ele próprio esqueceu… (Na segunda parte) Insistiu mais o Caldas e pareceu o Braga procurar aguentar o empate, o que conseguiu, embora a custo… Individualmente merecem referências: Rita, Fragateiro, António Pedro e Lenine no Caldas.


# 17.ª Jornada: BENFICA, 3 – CALDAS, 0 (05 de Fevereiro de 1956).

Na crónica do jornalista Silva Resende, do Jornal “A Bola”, publicado no dia 06 de Fevereiro de 1956, titulava-se: “A defesa visitante não se deixou cilindrar...Salvador voltou a ser o atacante mais em evidência”.

Estádio da Luz, em Lisboa,

Árbitro: Vitor Pinto Coelho, de Faro,

SPORT LISBOA E BENFICA: Costa Pereira; Calado e Angelo; Fernando Caiado, Artur Santos e Alfredo, Francisco Palmeiro, Mário Coluna, José Águas, Salvador Martins e Domiciano Cávem. Treinador: Otto Glória.

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Piteira e Fragateiro; Amaro, Leandro e Romero; Romeu, Orlando, Martí, António Pedro e Lenine. Treinador: József Szabó.

Na primeira parte: 1-0,

O único golo da primeira parte foi obtido por PALMEIRO, aos 14 minutos. O avançado benfiquista captou o esférico na linha média contrária, progrediu para o centro do terreno e a cerca de 30 metros «disparou» um remate fulminante que levou a bola ao canto superior esquerdo da baliza. A força do remate e a ajuda do vento, que ontem soprava rijo, não deram a Rita, a despeito da considerável distância quaisquer possibilidades de defender.

Logo a seguir Cávem falhou por um triz a conclusão de um centro magnífico de Coluna.

Mas foi aos trinta e dois minutos que a defesa visitante passou, com muita fortuna, poder situação de grande apuro. Numa jogada de insistência na grande área caldense, Águas livrou-se, por meio de fintas rapidissimas, de dois defesas e atirou em boas condições; porém o poste substituiu Rita e das recargas que se seguiram nenhuma lhe fez perigar as redes.

Aos 35 minutos o Caldas fez um golo que o árbitro invalidou. Na verdade, o lance fora precedido de «jogo perigoso» de parte de Martin.

A réplica dos visitantes teve, cinco minutos volvidos (40 minutos) uma oportunidade soberana que Romeu desperdiçou. Na execução de um «livre» por falta de Costa Pereira, ao segurar a bola com as mãos fora da área, António Pedro passou a Martin e do pontapé deste a bola ressaltou por acaso para os pés do extremo-direito (Romeu) que, a 3 metros, aplicou um pontapé frouxo á base do poste.

O Benfica respondeu com nova jogada de perigo. Noutra avançada característica de Águas, bem desembaraçado de dois opositores atirou ao lado esquerdo e novamente o poste salvou o golo iminente.

Na segunda parte: 2-0,
Só á meia hora da segunda metade (75 minutos) é que o Benfica aumentou a vantagem. Salvador avançou pelo centro do terreno fez um passe em profundidade a COLUNA que, em plena corrida, bateu Rita no momento em que este se lhe lançou no caminho.

O último golo surgiu no declinar da partida. Perseguido por Palmeiro, Fragateiro tentou passar ao guarda-redes, mas SALVADOR, mais lesto, chegou primeiro e atirou pela certa...

CRÓNICA DO JOGO (Jornal “A BOLA”): Manda a verdade dizer que nem o «mau jogo» do Benfica desmerece do resultado nem o «bom jogo» do Caldas poderia merecer outra compensação. Portanto, e desde que não há injustiça nos números, o Benfica venceu bem, sem ter ganho com brilho, uma equipa que, pela pujança atlética, sentido de entreajuda e marcado pendor defensivo, não é adversário para sofrer severas punições...António Pedro foi o avançado que mais deu que fazer (à defesa benfiquista), mas não teve companheiros nessa tarefa que, de certo não estava nos propósitos da equipa...A turma do Caldas deixou boa impressão e teve incontestável talento em amarrar, quanto lhe foi possível, o jogo do adversário. Em relação à partida com o Atlético, subiu alguns furos, mesmo sem ter em conta a superior valia do adversário de ontem. Rita, sempre bem amparado, só de uma vez hesitou em sair num centro de Cávem que poderia ser fatal. Não teve culpa nos golos. Piteira e Fragateiro exibiram-se com acerto e mostraram, aliás, como todos os companheiros, excelente condição física para correr e recuperar. Ao defesa esquerdo (Fragateiro) há que imputar a culpa do terceiro golo, em lance de manifesta precipitação. Leandro foi o melhor por ter sido o mais eficaz. Perseguiu Águas como uma sombra e não há dúvida de que pelo seu lado tudo esteve certo. Uma boa partida. Igualmente Romero, que actou sempre recuado na vigilância a Coluna, fez trabalho meritório – só diminuído por algumas dispensáveis notas de excessiva dureza. Amaro, mais modesto, foi ainda útil, como auxiliar da defesa. Que dizer do ataque caldense, reduzido quase só ao trabalho de fundo de António Pedro – este muito bem – e às iniciativas de Martin na zona frontal da baliza?. É pouco para julgar. O seu maior mérito terá consistido neste pormenor: embora sacrificado às cautelas defensivas da equipa ainda soube criar meia dúzia de bons lances, alguns com muito perigo. Foi certamente muito pouco em relação ao plano táctico da equipa. Seria preciso ver os seus componentes em jogo mais aberto e franco para ajuizar das suas reais possibilidades. Assim perderam decisivamente...

Rita defende - Mais um lance salvo pelo guardião caldense em situação de apuro. Romero e Leandro travam passo a Cávem e Águas, mas Rita não está ainda tranquilo nem senhor de recolher, no momento oportuno, o passe do seu defesa (Romero) que se antecipou, no segundo decisivo, à tentativa de ataque benfiquista (legenda da imagem acima reproduzida pelo Jornal "A Bola", no dia 06 de Fevereiro de 1956).

Numa pequena entrevista, publicada uns dias mais tarde, a 09 de Fevereiro de 1956, no Jornal “A Bola”, o guarda-redes Rita confessou que “Esperava o «Fim do Mundo»!...e afinal os nossos adversários só marcaram três golos, dois dos quais obtidos com muita chance”...e mais adiante respondendo à pergunta a quem atribuía os poucos golos obtidos pelo Benfica, respondeu que tinha sido “principalmente á maneira perfeita como os meus colegas de defesa «barraram» o caminho aos avançados «encarnados». Na verdade os meus companheiros contrariaram brilhantemente todos os que na semana anterior, vaticinaram que só faltaria saber quantos golos sofreria o Caldas”...Dizendo, ainda, nessa entrevista, que o “Caldas neste campeonato deverá, pelo menos, classificar-se em sétimo lugar!”.


# 18.ª Jornada – CALDAS, 0 – BARREIRENSE, 1 (12 de Fevereiro de 1956)

Na crónica do jornalista Acácio Correia, publicado, no Jornal “A Bola”, no dia 13 de Fevereiro de 1956, titulava-se: “Jogar para «não perder» e acabar por…ganhar bem”.

Campo da Mata, nas Caldas da Rainha,

Árbitro: Mateus Pinto Soares, do Porto,

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Piteira e Fragateiro; Amaro, Leandro e Romero; Romeu, Orlando, Bispo, António Pedro e Lenine. Treinador: József Szabó.


FUTEBOL CLUBE BARREIRENSE: Isidoro; Faneca e Carlos Silva; Diamantino, Pinto e Silvino; José Augusto, Oñoro (Espanhol), Correia, Vasques e Josef Fabian. Treinador-Jogador: Josef Fabian.

Antes de se iniciar o encontro o Caldas ofereceu uma placa comemorativa da primeira visita oficial do Barreirense ao seu campo.

Resultado da primeira parte: 0-1,
O golo que havia de ser o único da partida foi marcado aos 31 minutos, e teve algo de duvidoso, no início do lance que o procedeu. JOSÉ AUGUSTO [o futuro extremo-direito do Sport Lisboa e Benfica que venceu, ao longo de onze épocas no clube encarnado (1959-1970), 8 Campeonatos Nacionais, 3 Taças de Portugal e 2 Taças dos Clubes Campeões Europeus (1961 e 1962), marcando 174 golos em 369 jogos. Tendo estado presente em cinco finais da Taça dos Clubes Campeões Europeus, na qual foi totalista nas campanhas europeias vitoriosas do Benfica, com 11 golos apontados. Chegou a ser Seleccionador Nacional, entre Março de 1972 e Novembro de 1973, tendo mais tarde integrado uma Comissão Técnica, conjuntamente com Fernando Cabrita, António Morais e Toni, que orientou a Selecção Nacional no Euro 84, em França] pareceu-nos, a nós e a muito boa gente, ter recebido a bola na mesma linha de Leandro e portanto «fora de jogo». Entretanto o extremo-direito travou a bola e voltou a levar a melhor sobre Leandro que, entretanto, recuava uns passos. Finta com o corpo, mudança de pé e eis o marcador a correr, isolado, a caminho da baliza, para fazer o golo com um toque sereno, quando Rita saíu para tentar o impossível.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal “A BOLA”): Era de importância vital para o Barreirense o jogo de ontem, disputado no Campo da Mata. É que, se perdesse…colocá-lo-iam na «zona de aflitos» a pouquíssima distância dos últimos classificados. Isso mesmo compreendeu a sua massa associativa que servindo-se de numerosas camionetas, se deslocou às Caldas da Rainha, para amparar a sua equipa, não lhe faltando, durante o encontro, com os seus gritos de incitamento, o acenar das suas bandeiras berrantes, as suas palmas entusiásticas…Ressalta, logo à primeira análise, que os visitantes vinham para não perder, o que já não seria mau. Agora o que talvez não estivesse nas suas previsões foi a vitória que alcançaram que, pode dizer-se desde já, mereceram plenamente…Afinal o Caldas, facilitou-lhe a vida, não imprimindo às jogadas de ataque aquela movimentação alegre, viva e perfuradora, que tantas vezes lhe temos visto…Situações de perigo, criadas pelos visitados apenas uma, em toda a primeira parte, aos 19 minutos, depois de uma bola que fugiu a Isidoro e António Pedro atirou para fora…Já no último minuto da partida, o Caldas fez o que durante os restantes 89 minutos não conseguira, estando à beira de marcar, pois que depois, dum forte remate, disparado de longe – o indicado – quase ia surpreendendo Isidoro, que se limitou a desviar a bola por cima da barra. Os restantes segundos, foram empolgantes, com o Caldas todo, em cima da baliza do Barreirense, para a marcação do «canto» resultante da defesa e do «livre» indirecto que seguiu...O Barreirense, portanto ganhou bem, porque soube lutar por isso, desdobrando um sistema táctico (de 4-3-3, pouco utilizado nestes anos 50), cumprindo à risca (e fora dos moldes clássicos)...Passou-se qualquer coisa no Caldas, que transcende o âmbito puramente futebolístico. Há ali muitos jogadores que parecem desorientados das suas possibilidades, falhos de confiança em si próprios, em contraste com o que acontecia há bem pouco tempo. Ontem, por exemplo, Romeu, Lenine, Orlando e o próprio Bispo, pareceram ter medo da bola, temendo talvez as responsabilidades acabando por se desinteressar em muitos lances. Se de facto há qualquer coisa, é preciso combatê-la a bem da equipa e, consequentemente, do clube.
"No Último Momento (legenda da imagem acima reproduzida pelo Jornal "A Bola", no dia 13 de Fevereiro de 1956) - Na marcação dum pontapé de «canto» [Josef] Fabian (que viria a ser mais tarde treinador do Caldas, na época 1958/59, ainda na I Divisão) por pouco não ia fazendo um golo directo, não fora a colocação de Fragateiro (na imagem em grande plano) junto ao poste. Romero (do lado esquerdo da imagem) e José Augusto (ao centro da imagem) seguem o lance ansiosamente".


# 19.ª Jornada: SP. COVILHÃ, 3 – CALDAS, 0 (19 de Fevereiro de 1956)

Na crónica do jornalista, do Jornal “A Bola”, Acácio Correia, publicado no dia 20 de Fevereiro de 1956, titulava-se: “Triunfo merecido – Diferença exagerada”.

Estádio «José dos Santos Pinto», na Covilhã,

Árbitro: Clemente Henriques, do Porto,

SPORTING CLUBE DA COVILHÃ: Rita; Nicolau e Couceiro; Pedro Martin, Amílcar Cávem e Fernando Cabrita, Carlos Ferreira, Janos Hrotkó, Suárez, Pires e Sarrazola. Treinador: Janos Szabo.

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Amaro e Fragateiro, Amorim, Leandro e Romero, Anacleto, António Pedro, Martí, Martinho e Lenine. Treinador: Józef Szabó.


Resultado da primeira parte: 2-0,

Aos 26 minutos, 1-0: Carlos Ferreira tentou um passe a Hrotkó, que foi interceptado por Fragateiro, deixando este porém, fugir-lhe a bola. Novo passe de Carlos Ferreira, desta vez para SUÁREZ o qual isolado e à entrada da grande área, disparou fortíssimo, fazendo um golo de belo efeito.
 
A quatro minutos do fim da primeira parte (41 minutos), 2-0: Ataque do Covilhã, pela esquerda, culminando com uma entrega de Sarrazola a SUÁREZ. Este, depois de receber a bola tocou-a de um pé para o outro, simulou uma fuga, para disparar assim que Leandro destapou a baliza.

Resultado do segundo tempo: 1-0,
 
Aos 70 minutos, depois de um remate de Suárez, um defesa dos visitantes metem mão à bola, não impedindo, contudo, que Pires fizesse o golo de cabeça. O árbitro, porém, assinalou grande penalidade, de cuja marcação se encarregou Hrotkó. A bola partiu forte, mas de encontro às pernas de Rita que, entretanto, tinha mergulhado para o seu lado esquerdo.

Como aconteceu na primeira parte, a quatro minutos do termo da hora regulamentar (86 minutos) o Covilhã marcou um golo, pondo o resultado em 3-0: depois de uma combinação Hrotkó-Pires, este passou a Suárez que rematou de pronto. A bola, embatendo no poste, foi até SARRAZOLA que atirou para a baliza à vontade.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal “A BOLA”) – Pode inferir-se de resultado tão desnivelado, como o 3-0 parece indicar, que a equipa da Covilhã dispôs do seu adversário e que essa diferença corresponde a intenso domínio ou a melhor factura de jogo por banda do vencedor, a justificar resultado tão expressivo. No entanto, nada mais inexacto. Nem o Covilhã jogou para ter direito a três golos sem resposta, nem o Caldas se inferizou a ponto de merecer punição tão severa. Vamos mais longe, se dissermos que os visitantes depois de perderem a primeira grande oportunidade de golo, aos 8 minutos do começo, quando Anacleto, com tempo para fazer tudo, atirou inexplicavelmente a bola para as mãos de Rita, tiveram, já na segunda parte, três oportunidades flagrantíssimas, para reduzirem o seu atraso que, nessa altura se cifrava em dois golos…Agora 3-0 é que não. É vantagem exagerada, para o jogo produzido pelas duas equipas, e que não foi de muito bom nível, diga-se de passagem. Para isso, deve ter contribuído a disposição com que o Caldas entrou para o terreno, com quatro defesas em linha – Romero era o médio mais recuado (o que hoje em dia no futebol se chama o «trinco») – procurando afastar, de qualquer maneira, a bola para longe da sua área. Esse era o seu primeiro pensamento. O resto se veria depois…Para o começo da segunda parte, o Caldas deu a entender a toda a gente que não estava conformado com o resultado e que ia fazer tudo para o modificar. Foi então mais insistente, mais perigoso, obrigando Rita (o do Covilhã) a trabalho de muita valia (tal como acontecera ao outro Rita durante o primeiro tempo). De tal maneira que só não marcou aos 10 minutos (55 minutos), porque a sorte ou o azar, não quis: Marti passou a António Pedro, este esperou a saída de Rita para lhe passar a bola por cima. Salvou Martin, quase sobre o risco. Dois minutos depois (57 minutos), outra oportunidade flagrantemente perdida pelo Caldas: insistência de António Pedro, passe para Martinho, e deste para Anacleto. Remate calmo, para o lado desguarnecido da baliza e, quando o tento parecia feito, eis que aparece Cávem a salvar providencialmente…Apesar de tudo, o Caldas continuou a insistir, a teimar, a não se dar por vencido e, aos 34 minutos (79 minutos), a sorte fez-lhe nova negaça, quando uma cabeça de Romero bateu Rita, mas a bola caprichosamente, embateu num poste, passou por detrás do guardião serrano, para dentro do terreno acabando por ser pontapeada por um defesa. Daí até ao final, nada mais digno de nota, além do último golo dos covilhanenses e do nevão que começou então a cair. Em breves minutos o campo ficou branco, e os flocos de neve constituíram, para o termo da partida, alva cortina que chegou a perturbar a boa visão…Temos de dizer na apreciação final ás equipas que bem, nenhuma jogou. Mas mal, de todo, também não…(Fernando) Cabrita e António Pedro, foram talvez os elementos que mais procuraram fazer pelas suas equipas, correspondendo os melhores momentos de cada uma a iniciativas suas.


# 20.ª Jornada: LUSITANO DE ÉVORA, 7 – CALDAS, 3 (26 de Fevereiro de 1956

Na crónica do jornalista, Rebelo de Carvalho, publicada no Jornal “A Bola”, no dia 27 de Fevereiro de 1956, titulava-se: “Uns ganharam bem, outros perderam com dignidade”.

Campo Estrela, em Évora,

Árbitro: Jaime Pires, de Lisboa,

LUSITANO GINÁSIO CLUBE DE ÉVORA: Dinis Vital; Polido (capitão) e Paixão; José da Costa, Falé e Vicente; Batalha, Marciano, Caraça, Vieirinha e José Pedro. Treinador: Severiano Correia.

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Amaro e Fragateiro; Amorim, Leandro (capitão) e Romero; Vilaverde, António Pedro, Bispo, Martinho e Lenine. Treinador: József Szabó.

1.ª parte: 3-0,

A série de três tentos obtidos pelos eborenses no primeiro período foi aberta por BATALHA, aos 22 minutos. Foi um golo vistoso que nasceu de um «livre» apontado por Vicente. A bola foi tocada sempre de cabeça, sucessivamente, por Marciano, José Pedro e o autor do tento (Batalha) sem que nenhum caldense a interceptasse.

Aos 38 minutos: 2-0: Batalha rematou e Rita largou a bola tendo dado ensejo a que JOSÉ PEDRO fizesse a recarga a deslizar sobre a relva.

No último minuto (45 minutos), José da Costa «disparou» de longe e o guardião caldense voltou a não conseguir segurar o esférico. Desta vez foi CARAÇA, quem acudiu para aproveitar a oportunidade.

Na 2.ª parte: 4-3,

O Lusitano chegou a 7-0, até aos 28 minutos (68 minutos). Logo no primeiro minuto (46 minutos), MARCIANO aproveitou bem uma jogada de Caraça (4-0). Aos 9 minutos (54 minutos), o mesmo MARCIANO visou as redes de longe (5-0), e, passados outros nove minutos (63 minutos), JOSÉ PEDRO obteve o sexto tento na sequência de uma jogada de teimosia de Marciano. Aos 28 minutos (73 minutos) um lance de colaboração BATALHA-CARAÇA terminou com Romero e Rita batidos (7-0). Seguiu-se a série dos três golos dos visitantes (do Caldas), aos 34 (79 minutos), 39 (84 minutos) e 44 minutos (89 minutos). BISPO desviou bem a bola rematada por Lenine (7-1); VILAVERDE antecipou-se de cabeça, a Vital (7-2) e LENINE aproveitou de melhor maneira um passe de Vilaverde (7-3).


CRÓNICA DO JOGO (Jornal “A BOLA”): Um dos tópicos do jogo foi este: a equipa do Caldas não se acomodou convenientemente ao estado do campo. O lençol verde estava «empapado» e a água, que a relva encobria, «esguichava» constantemente. Registavam-se «patinadelas» aparatosas, porquanto, o terreno não oferecia a necessária firmeza e não há dúvida de que os lusitanistas adaptavam-se melhor ao piso, avançando com mais segurança para a bola e correndo mais agarrados ao solo. Toda a defesa caldense se ressentiu extraordinariamente das condições anormais do terreno e o guarda-redes (Rita) sofreu ainda as inclemências provocadas pelo facto de a bola andar pesada e escorregadia. Rita foi posto à prova com frequência pelos expeditos avançados eborenses, pertencendo-lhe o papel de «vítima» não só pela circunstância apontada, como também pela falta de protecção dos seus defesas, que deram largas para além dos limites a um ataque em dia de inspiração…Se a desvantagem de 0-3 (ao intervalo) já era grande, mais um tento na alvorada do segundo período e ainda mais dois até aos 18 minutos teriam desmoronado qualquer equipa. Mas a do Caldas revelou forte espírito de luta, credor de uma referência especial. Quando o Lusitano atingiu a expressiva marca de 7-0 já eram os caldenses que estavam na «mó de cima» com ideias mais claras sobre a manobra apropriada que em pouco se resumiu – aproveitamento da impulsão das pontas em jogadas delineadas sobre os corredores laterais, a atraírem os defesas. Foi assim que os visitantes abriram caminho na faixa central com certa «complacência» dos defensores de Évora (a repousarem sobre 7-0) e explorando o facto de as pernas de alguns eborenses não responderem à chamada nos últimos vinte minutos. Vimos então a linha dianteira do Caldas integrada na ideia ofensiva, trocando bem a bola entre si e deixando os antagonistas «pregados» ao terreno. De 7-0 o resultado passou para 7-3, ficando assim (e muito justamente) adoçada uma derrota que o brio dos caldenses levou a proporções mais adequadas. A equipa do Caldas saiu do campo merecidamente ovacionada pelos adeptos do Lusitano. É evidente que em tamanha derrota do Caldas houve certa dose de «acidentes». Temos do grupo melhor impressão e estamos crer que a equipa vale muito mais em terreno seco estando naturalmente mais afeita a campos «pelados». A equipa derrotada não deixou de lançar um golpe de recurso na segunda parte. Assim Bispo permutou com Vilaverde, certamente porque Falé não deixava o n.º 9 do Caldas (Bispo) por pé em ramo verde. A troca resultou em benefício dos dois postos…E os caldenses não tiveram a fortuna pelo seu lado, na segunda metade porquanto António Pedro não aproveitou uma grande penalidade (Vital defendeu o golpe com verdadeira classe) e Martinho fez «estremecer» a barra, quando em toque mais ligeiro (mas com melhor colocação) teria outro efeito. Em suma: o Caldas perdeu «tão bem» como o adversário ganhou. A inferioridade dos caldenses no balanço no geral em nada feriu o real valor do grupo…No Caldas, afora o último período em que todos se galvanizaram não houve para referir mais do que uns «apontamentos». Leandro foi o menos comprometedor na retaguarda, assim como Martinho e António Pedro foram os mais regulares na frente.


 # 21.ª Jornada: CALDAS, 0 - SPORTING, 2 (04 de Março de 1956).

Na crónica do jornalista Reinaldo Monteiro, publicada no Jornal “A Bola”, no dia 05 de Março de 1956, titulava-se: “ A excelente réplica dos caldenses valorizou a vitória dos lisboetas”.
 
Campo da Mata, em Caldas da Rainha,

Árbitro: Inocêncio Calabote, de Évora,

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Amaro e Fragateiro; Romero,  Leandro (capitão) e António Pedro; Bispo, Romeu, Vilaverde, Martinho e Lenine. Treinador: József Szabó.


SPORTING CLUBE DE PORTUGAL: Carlos Gomes; Galileu e Joaquim Pacheco, Walter Brandão, Passos (capitão) e Juca [Júlio Cernadas Pereira]; Rocha, Vasques, Miltinho (Brasileiro), Joaquim José e «Quim». Treinador: Alejandro Scopelli (por esta altura, estava demissionário).


Antes de começar o desafio, um grupo de «leões» das Caldas da Rainha obsequiou o «internacional» Travaços (que não jogou neste jogo) com uma jarra de faiança artística e ofereceu doces regionais aos restantes jogadores lisboetas.


Ao intervalo: 0-0, a despeito do melhor jogo produzido pelos lisboetas, que se mostraram mais perigosos nas proximidades da grande área, mas não conseguiram marcar, contribuindo também para isso a excelente actuação do guarda-redes caldense (Rita).

Na segunda metade: 0-2. Depois de se libertar da pressão exercida pelo adversário, o Sporting atacou pela direita, de onde partiu um cruzamento para o outro lado. Miltinho e Rita tocaram na bola, que foi cair aos pés de QUIM. E aproveitando rapidamente tão bom ensejo, o pequeno extremo «leonino» alcançou aos 17 minutos (62 minutos), o primeiro ponto da sua equipa.

O golo da confirmação só apareceu aos 44 minutos (89 minutos) e precisamente quando se esperava mais um tento dos visitados. VASQUES dispõe-se a disputar a posse do esférico aos defesas e conseguiu levar a melhor. Da sua insistência nasceu o golo, que ele obteve com um pontapé colocadíssimo, ao canto esquerdo de Rita. Este ficou pregado no terreno, deixando dúvidas se o fez por supor que a bola iria para fora ou se entendeu desnecessário qualquer tentativa de defesa.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal “A BOLA”): No decurso da primeira parte o Sporting jogou bastante melhor do que o Caldas e nada haveria que dizer se atingisse o intervalo na situação de vencedor. Para que tal facto não se verificasse contribuiu, em primeiro lugar, a excelência do guarda-redes Rita, que realizou defesas dificílimas e, também a circunstância de os médios e defesas caldenses não terem cedido terreno aos avançados contrários…Perto do intervalo, depois de outro breve período em que os caldenses tentaram modificar o resultado para o que voltaram a empenhar-se no ataque, colocando por vezes em embaraços a defesa do grupo visitante, conseguiu este último assenhorar-se de novo do comando das operações e forçar Rita a mais umas quantas intervenções meritórias. A qualidade de jogo baixou grandemente na segunda parte do desafio…O Caldas, colocando Bispo no eixo do ataque e Vilaverde a extremo-direito, recomeçou o prélio com evidentes desejos de ganhar. Durante largos minutos foi digno de ver-se…Em boa velocidade, libertando-se rapidamente da bola, os avançados bem apoiados de perto pelos dois médios, puseram em constante sobressalto a defesa do Sporting. Carlos Gomes foi então chamado a intervir mais frequentemente e, por duas vezes, esteve prestes a ser batido. Sê-lo-ia sem dúvida, se o extremo esquerdo dos locais (Lenine) fosse mais expedito. Da primeira vez, aos 11 minutos (56 minutos), Lenine, com toda a defesa batida preferiu concluir de cabeça, inocentemente, um centro que estava mesmo a pedir um pontapé decidido. E logo a seguir, num lance idêntico, o mesmo Lenine concluiu o trabalho do companheiro da direita (o espanhol Vilaverde) com um remate fraquíssimo para as mãos de Carlos Gomes…Depois do golo do Sporting…outras ocasiões tiveram depois os caldenses a seu favor, perdendo-as por má direcção dos remates.


# 22.ª Jornada: ACADÉMICA, 2 - CALDAS, 2 (11 de Março de 1956).


Na crónica do jornalista Acácio Correia, publicada no Jornal “A Bola”, no dia 12 de Março de 1956, titulava-se: "Uma desvantagem de 2-0 descontrolou os estudantes".

Estádio Municipal de Coimbra,


Árbitro: Curinha de Sousa, de Portalegre,


ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA: Ramin; Nuno e Melo; Mário Torres, Mário Wilson e Malícia; Duarte, Pérides, Abreu, Faia e Bentes. Treinadores: Cândido de Oliveira e Fernando Leite (Nana).


CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Amaro e Fragateiro, Romero, Leandro e António Pedro; Orlando, Romeu, Bispo, Martinho e Lenine. Treinador: József Szabó.


Resultado da 1.ª parte: 1-2,


O Caldas chegou a usufruir de vantagem de 2-0, em golos apontados aos 11 e 27 minutos, e ambos da autoria de MARTINHO. No primeiro, um «alívio» de Fragateiro, levou a bola até à grande área do adversário, onde Mário Wilson a tocou de cabeça, mas de tal maneira que a deixou à mercê do interior esquerdo visitante (Martinho), que não perdeu tempo, disparando forte pontapé, de baixo para cima, e que levou a bola a entrar, depois de tabelar na face inferior da trave. No segundo, Bispo, apoderando-se do esférico, sensivelmente a meio campo, ensaiou uma fuga, que terminou com um passe cruzado para Romeu. Entrega deste a Lenine, que parecia destinada a gorar-se pois Nuno (Académica) quase esteve senhor do lance. Tal não aconteceu, porém, e o n.º 11 forasteiro (Lenine) centrou para MARTINHO que, calmamente, atirou para o lado desguarnecido da baliza.


Aos 42 minutos, 1-2: Pérides foi derrubado por Leandro e Romeu, fora da grande área. MÁRIO WILSON marcou o castigo com um pontapé fortíssimo. Rita parecia em boa posição, mas, repentinamente, viu-se batido com o efeito que a bola tomou «fugindo» para o seu canto esquerdo.


Resultado da segunda parte: 1-0,

Aos 52 minutos, a Académica alcançou o golo do empate, depois de uma boa série de passes, em progressão, dos seus avançados, que terminaram com um toque calmíssimo de Duarte para ABREU, que disparou um remate sem remissão.

CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A BOLA"): O Caldas, que já se daria por satisfeito, em não consentir golos, viu-se, ao contrário e antes da primeira meia hora, senhor duma vantagem de respeito...Alinhando com o já quase clássico 4-2-4, com Romero no 4 defensivo e Romeu no binário de médios souberam defender bem o seu último reduto sem se preocuparem com bonitos e sem perdas de tempo, tentando imediatamente surpreender, o adversário explorando, da melhor maneira a velocidade de Bispo, a experiência e o bom pontapé de Martinho e a mobilidade dos seus extremos...Destacando-se ainda o já combativo António Pedro.



# 23.ª Jornada: CALDAS, 3 - F.C. PORTO, 3 (18 de Março de 1956).

Título e Crónica da Primeira Página do Jornal "A BOLA", do dia 19 de Março de 1956, pelo jornalista José Olímpio: "O Empate nas Caldas pouco terá afectado o F.C. Porto". 

Veio das Caldas da Rainha, aonde quase «aconteceu» o mais surpreendente escândalo do torneio - a primeira derrota dos pré-campeões. Ficou-se por um empate...para que a gente daqueles sítios possa afirmar que não foi ali que o Porto ganhou o campeonato...Merece rasgados elogios a equipa de José Sezabo. Três golos nas balizas que Pinho (guarda-redes portista) tem guardado ciosamente constitui de facto proeza invulgar, aventura inédita. Se sofreu outros tantos, nem por isso se lhe assaquem culpas excessivas. Os do Norte tem um tal poder de ataque...Chegou-se a pensar na vitória dos Caldenses, o que seria complicação terrível para o torneio e quase salvação para os donos do terreno. O empate empalidece um tudo ou nada a estrela do grupo de Yustrich (treinador brasileiro do F.C. Porto); talvez chegue para livrar do perigo temeroso do jogo de passagem (para o Caldas) os autores da façanha. Especialmente se se convenceram de que são capazes de muito, como ficou demonstrado em dois domingos sucessivos (com a Académica, em Coimbra e agora com o F.C. Porto).

Na crónica propriamente dita do jogo, o célebre jornalista Vitor Santos, titulava, no Jornal “A Bola”, no mesmo dia, o seguinte: "Luta sem Quartel - «Fogo», Suor e Drama" e "Onde arranjou o Caldas aquela energia toda?". 

Campo da Mata, nas Caldas da Rainha,

Árbitro: Mário Garcia, de Aveiro,

CALDAS SPORT CLUBE: Rita, Amaro e Fragateiro; Romero, Leandro (capitão) e António Pedro; Orlando, Romeu, Bispo, Martinho e Lenine. Treinador: József Szabó.

FUTEBOL CLUBE DO PORTO: Pinho; Virgílio (capitão), Osvaldo Cambalacho; José Maria Pedroto, Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Carlos Duarte (Angolano), Gastão, «Jaburu», Teixeira e José Maria. Treinador: Dorival Knipel "Yustrich".



Resultado da 1.ª parte: 1-1.

  
   Bispo aponta o primeiro golo da partida, ultrapassando Miguel Arcanjo e batendo o guarda-redes portista, Pinho. Fonte: Jornal "A Bola".

 
Aos 16 minutos: 1-0: «Deixa» de António Pedro para Martinho que, na passada e com excelente visão, lançou em profundidade o seu avançado-centro (Bispo). Miguel Arcanjo foi pouco expedito a entrar ao desarme e BISPO pôde rematar com calma e oportunidade, forte e a meia altura, quando Pinho já estava a meio caminho para tentar fechar o ângulo.

Aos 30 minutos: 1-1: Uma carga sobre «Jaburu» que temos fortes dúvidas se não foi cometida dentro da grande área foi castigado pelo árbitro com um «livre» sobre a linha limite. Pedroto marcou e Teixeira, sobre a meia direita, tocou a bola de cabeça, para a frente da baliza. GASTÃO, a dois passos do risco (não estaria «fora de jogo»?) alcançou um golo com um pequeno toque para dentro da baliza.

Resultado da segunda parte: 2-2.

A 1 minuto (46 minutos), 2-1. «Canto» contra o F.C. Porto marcado na esquerda, por Martinho. A bola, cruzada, foi rematada portentosamente por ORLANDO, de cabeça, obtendo um belo tento. Pinho ainda tocou o esférico mas não pôde evitar o golo.

Aos 14 minutos (59 minutos), 2-2. Leandro sem bola, aplicou um pontapé em «Jaburu», dentro da grande área, o árbitro considerou a falta como carga fora de tempo e marcou um «livre» indirecto. A defesa do Caldas conseguiu resolver o lance enviando a bola para «canto». José Maria marcou-o da extrema-esquerda, o esférico passou pela frente de todos os defesas caldenses sem que nenhum tivesse podido entrar e «JABURU», da meia-direita, rematou seco, com a parte de dentro do pé, no jeito de tacada de bilhar, alcançando o golo.

Aos 17 minutos (62 minutos): na sequência de um «canto» contra o Caldas estabeleceu-se burburinho dentro da grande área dos visitados e Fragateiro e Monteiro da Costa, em lance confuso, «embrulharam-se» de tal modo que o árbitro resolveu expulsar os dois. O médio portuense não se conformou e teve de ser acalmado pelos seus companheiros de equipa e treinador.

Aos 19 minutos (64 minutos), 2-3. Com a defesa do Caldas confundida e claramente «desmiolada», um avanço dos «azuis e brancos», inteligente e oportuno a explorar o modo como estava desguarnecido, o flanco esquerdo do reduto adversário é estupendamente conduzido por CARLOS DUARTE que concluiu a jogada com um remate sesgado, ao canto contrário, levando a bola ao fundo da baliza.

Aos 36 minutos (81 minutos), 3-3. »Canto» contra o F.C. Porto marcado na direita por Martinho. A bola vai a ROMEU que, beneficiando de certa passividade da defesa portuense pôde preparar o remate e alcançar o golo.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A BOLA"): Atente-se na ênfase, que o jornalista Vitor Santos, pôs nas palavras ditas, nesta crónica, para descrever o que se passou naquela tarde de Março, no Campo da Mata: Luta sem quartel! Não se trata de um título estridente, a deitar para o bombástico, traçado para «armar ao efeito». É sim, uma imagem certa e fidelíssima, de uma partida de futebol arrasante, todo frenesim e nervos e sacrifício e drama. Há muito que não assistiamos a um despique tão emocionante e disputado. Há muito que não eramos subjugados por tão total e abnegada entrega dos jogadores ao «fogo» de uma «batalha» cerrada e constante, com músculos e nervos a desafiarem a dureza do aço, com coração ao bater a galope de um «derby». Há muito que não viamos sobre um rectângulo de jogo, imagens de esforço e de drama com tão vincados esgares de vontade, de garra, de sacrifício. Foi, realmente, extraordinário o que se passou ontem no Campo da Mata. É extraordinário não porque se considere ou considerasse inverosímel aplicarem-se jogadores profissionais com tão assinalável desprezo pelo cansaço, pelo esgotamento, pela lesão, mas porque raramente o «clima» de um jogo, as condições do terreno, as oscilações do marcador, concorrem para transformar os homens em titãs, uma simples partida desportiva em luta «de vida ou de morte», 90 minutos de discussão de fundo técnico-táctico em hora e meia de tão difícil e exigente «teste» físico e moral...Ora foi isto que sucedeu com este Caldas-F.C.Porto...num rectângulo de terra batida transformado por bátegas intermitentes (diz quem lá esteve que foi um jogo sob intensa chuva) num mar de lama, a exigir um esforço extraordinário, aqui e ali verdadeiramente dramático, quase «ciclópico», a jogadores transformados em fantasmas, desgrenhados, quase grotescos...Quanto às oscilações do marcador...que, só por si, fez advinhar o que teve de sugestivo e de aliciante, o despique mantido...Mas nas condições de ontem desvaneceu-se muito a diferença de capacidade dos dois conjuntos...O Caldas que, noutras condições e para forçar o impossível teria, que tentar «subir» até ao seu adversário, obrigou...O F.C. Porto a «descer» até si fazendo-o empenhar as mesmas armas de combatividade, de genica, de ardor, de querer, de vontade...Nunca admitimos, mesmo com jogo deste cariz com tipo de luta infrene, que a turma de José Sezabo, pudesse manter «metade» do ritmo exibido nos 90 minutos do encontro, para mais frente a um conjunto 100% profissionalizado (o que não acontecia com a grande maioria dos jogadores caldenses), magnífico de preparação física, de «endurance», de confiança e de personalidade como é o conjunto do F.C. Porto. Uma verdadeira surpresa!...O Caldas não ganhou o jogo, mas pode ufanar-se desta proeza: foi a equipa que mais golos marcou ao F.C. Porto neste Campeonato...Foi bonito e empolgante o que fez o «pequeno» que muitos consideravam (ou consideram) como mais que certo penúltimo deste Campeonato de 1955-56...Deve mesmo dizer-se que, sempre que Martinho pôs de parte o jogo individual, de retenção e de drible (e o terreno não estava nada indicado para o efeito!) o Caldas fez aflorar clara tendência, para um futebol ofensivo, prático e eficiente, capaz de sacar o máximo das possibilidades de jogadores frágeis, habilidosos, mas pouco mais do que isso (Orlando, Romeu e Lenine)...Na equipa do Caldas, Rita realizou uma boa exibição, nas saídas e, embora tenha atravessado na segunda parte um período de...desorientação (abandonou a baliza algumas vezes com evidente despropósito e terá «facilitado» assim, um golo, pelo menos), a verdade é que evitou tentos mais de possíveis. Amaro foi, a nosso ver, o mais certo e equilibrado jogador da defesa. Actuou «limpamente», tapou bem o caminho a José Maria, principalmente o terreno de fora, e pôde ainda dobrar os seus companheiros, em especial Romero. Leandro começou bem, mas «sentiu» muito as reviravoltas do jogo e, talvez vencido pelo cansaço...excedeu-se em «jogadas más», como a que teve, para com «Jaburu», de todo inqualificável. Fragateiro enquanto jogou o jogo pelo jogo esteve muito bem. Realizou até desarmes de excelente categoria, mas depois caiu no processo antipático e acabou mal - foi expulso...Romero, que foi o pior de todos estes «três casos». Marcou «Jaburu» sempre «a mal». Não era a jogada clara e flagrantemente «a matar» mas era o toque baixo, subterraneo, capcioso. Fez muitos «livres» e obrigou o avançado-centro brasileiro («Jaburu») a sacar também o seu repertório de truques, que, como se sabe, não é nada mal fornecido...Exemplo de como se pode ser um gigante a lutar mantendo sempre lisura de processos, é esse pequeno grande, António Pedro, que foi inexcedível de brio, de vontade, de querer e de...jogo! Muito bem!. Na linha dianteira houve desequilíbrio. Em jogo útil e, isto apesar do modo, como o interior-esquerdo (Martinho) caiu no vício de roer a bola, os melhores foram Bispo e Martinho. Saber jogar é, sempre, um grande trunfo. A seguir, Romeu viu-se pouco mas teve passes de boa visão, alguns preciosos. Os extremos equivaleram-se, Orlando assinalou um golo portentoso e, além disto teve uma jogada logo no início do jogo merecedora de realce. Lenine pode ufanar-se de ter desfeiteado Virgílio (chamado de o "Leão de Génova", por no dia 27 de Fevereiro de 1949, na cidade de Génova, no seu jogo de estreia com a camisola da Selecção portuguesa, contra a Itália, ter sido considerado o melhor jogador português em campo, anulando o famoso atacante transalpino da altura, Riccardo Carapellese, apesar do resultado contrário às nossas cores de 4-1) em três ou quatro jogadas na segunda parte.  


DECLARAÇÕES DE ALGUNS INTERVENIENTES DO CALDAS S. C. NO FIM DO JOGO (Jornal "A BOLA"):

LEANDRO (Capitão do CALDAS S.C.): Estou contentíssimo e creio que o mesmo se passará com os nossos adversários. Para nós a satisfação de fugirmos a uma posição incómoda e para o Porto, a conquista do título máximo, aspiração justa, pois não há dúvida que possui excelente equipa. Quanto ao resultado - podiamos ter ganho, mas, de qualquer modo, estou muito satisfeito. E quem não estará?;

Á entrada dos balneários do Caldas estava FRAGATEIRO que nos disse: - Foi um verdadeiro jogo de Campeonato, disputadíssimo e duro, mas sem se ultrapassarem as boas normas. O Caldas mereceu a vitória, pois lutou para isso, e até porque o Porto foi feliz na obtenção dos seus golos. Quanto à minha expulsão - surpreendeu-me. Tanto eu como Monteiro da Costa caímos e nada mais. O Porto possui excelente equipa é só pena que «Jaburu» use de tantos truques. O que vale é que os árbitros já o conhecem.

Penetrámos nas cabinas do Caldas, onde o ambiente era de natural alegria, pois cumprira-se o que se desejara. O «leader» não passou no Campo da Mata. Aí falámos com MARTINHO e com ROMEU, que conseguira o golo de empate: MARTINHO declarou-nos: - Foi um jogo bem disputado e, se a vitória nos sorrisse, creio que tal facto não escandalizaria ninguém. O Porto possui boa equipa mas verdadeiramente só me impressionou pela força física patenteada. Os seus melhores jogadores foram, quanto a mim, Pedroto e Gastão. O avançado centro «Jaburu» é um jogador complicativo e exageradamente teatral.
ROMEU, não escondia a satisfação de que estava possuído e afirmou-nos: - Quando fiz o remate, senti logo o êxito. Estou muito satisfeito, pois, com o primeiro golo que obtive para a minha equipa, conquistei o empate frente á turma portuense, que, não há dúvida, está excelentemente preparada fisicamente. Podíamos ter ganho, mas a sorte nada quis. 

# 24.ª Jornada: BELENENSES, 3 - CALDAS, 1 (15 de Abril de 1956).

Na crónica do célebre jornalista Aurélio Márcio, publicada no Jornal “A Bola”, no dia 16 de Abril de 1956, titulava-se: "Os lisboetas não mereciam ir mais além".

Campo das Salésias, em Lisboa,

Árbitro: Inocêncio Calabote, de Évora,

CLUBE DE FUTEBOL "OS BELENENSES": José Pereira; Pires e Moreira; Carlos Silva, Figueiredo e Vicente [Lucas], Miguel Di Pace (capitão), Dimas, André, Matateu e Tito. Treinador: Fernando Riera.

CALDAS SPORT CLUBE: Vitor, Amaro e Piteira; Romero, Leandro (capitão) e António Pedro, Orlando, Romeu, Bispo, Martinho e Lenine. Treinador: József Szabó.

Antes do início do jogo nas Salésias, LEANDRO (Capitão do Caldas S.C.)  e o argentino MIGUEL DI PACE (Capitão do Belenenses), trocam lembranças, observados de perto por DIMAS, extremo do Belenenses. Fonte "Belenenses Ilustrado".

Primeira parte: 1-1.

Aos 18 minutos, 1-0: Pires, da linha de meio campo, marcou um «livre». Leandro repeliu a bola de cabeça, e DI PACE, á entrada da área, apanhou-a no ar e enviou-a para a baliza. Vitor, lento a mergulhar, deixou-a entrar.

Aos 36 minutos, 1-1: MARTINHO, da extrema-direita, centrou por alto. José Pereira quis fazer uma linda defesa e deixou entrar a bola na sua baliza, com surpresa geral.

Segundo tempo: 2-0.

Dimas e Tito trocaram de lugares [no campo de jogo] no recomeço do jogo [Passando Dimas a jogar a extremo-direito, e Tito a jogar a extremo-esquerdo].

Aos 13 minutos (58 minutos), 2-1: da extrema-esquerda, Tito, executou um centro por alto e PITEIRA com um excelente golpe de cabeça, de fazer inveja aos avançados belenenses, meteu a bola na sua baliza [portanto um auto-golo], perante a serenidade de Vitor.

Aos 25 minutos (70 minutos), 3-1: André serviu DIMAS. O extremo-direito lisboeta entrou, na grande área, esperou a saída de Vitor e marcou à vontade.

O Caldas foi punido com uma grande penalidade, aos 40 minutos (85 minutos), por Amaro haver derrubado Matateu. O moçambicano encarregou-se da marcação do castigo, mas fê-lo com pouco jeito e pouca força e a bola subiu uns três metros, saindo por alto.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A BOLA"): Foi um triunfo penoso e difícil o que ontem conquistou o Belenenses sobre o Caldas S. C., antepenúltimo classificado do campeonato. A dificuldade do «onze» lisboeta está expressa na magreza do resultado, demasiado modesto para a capacidade das duas equipas que veio a assentar afinal numa exibição de escasso mérito, desprovida de brilho e de sumo futebolístico, diante de uma equipa como a do Caldas que não utilizou artimanhas nem processos defensivos, antes desceu ao relvado das Salésias disposto a discutir o jogo e o resultado com o seu categorizado adversário, não obstante a delicada posição que ocupa na classificação...Simplesmente, o grupo lisboeta esteve numa tarde de completo e total desacerto, de forma que não se aproveitou nem a categoria individual dos seus jogadores, nem da sua melhor concepção de jogo...A excelente organização dos caldenses dentro do seu meio campo, apareceu com toda a naturalidade, com os médios e defesas actuando acertadamente na marcação sobre os avançados belenenses, facilitada embora a missão de cada um deles, devido á referida precipitação dos avançados do grupo lisboeta. O jogo ofereceu assim o aspecto de ver uma equipa, a do Belenenses, permanentemente postada ao ataque, «mastigando» o jogo a meio campo, incapaz de ultrapassar a organização defensiva do «onze» caldense. Estiveram, portanto, nas Salésias duas linhas de avançados semelhantes na concepção de jogo, embora diferentes na produtividade. A do Belenenses pôde marcar os golos indispensáveis á vitória não obstante a discreta actuação dos seus componentes, enquanto a do Caldas, que também não ligou lances em numero e frequencia indispensável não foi capaz de marcar golos, salvo o ponto acidental, de Martinho, possibilitado por José Pereira e uma bola à trave do mesmo Martinho, no seguimento de um livre...O Caldas S.C. foi [assim] uma equipa muito bem organizada dentro do seu meio campo e sem capacidade no ataque. Os seus jogadores mostraram-se em boa condição física e moveram-se dentro do campo com desenvoltura; nunca deram a sensação de desorganização. Vitor não foi um guarda redes á altura da equipa, pois nos dois primeiros golos não fez tudo quanto estaria ao seu alcance para as evitar. Amaro foi o melhor defesa e o de melhor capacidade futebolistica. Leandro não teve complicações e Piteira encontrou dificuldades, a defesa esquerdo. O seu golo foi um caso de infelicidade. Romero e António Pedro foram dois médios diligentes, activos e empreendedores que cumpriram cabalmente a missão que a cada um deles incumbia, o primeiro na vigilância sobre «Matateu», o segundo como alimentador do ataque. A dianteira, como expressão de conjunto teve uma actuação descolorida e desprovida de eficiência. Todavia, os seus elementos, tomados cada um per si, mostraram-se habilidosos, especialmente Bispo. Mas claro, isso não basta...


# 25.ª Jornada – CALDAS, 3 - CUF, 0 (22 de Abril de 1956).
Na crónica do jornalista Moreira da Cruz, publicada no Jornal “A Bola”, no dia 23 de Abril de 1956, titulava-se: “A Equipa das Caldas dominou primeiro e marcou depois".

Campo da Mata, em Caldas da Rainha,

Árbitro: Abel Macedo Pires,

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Amaro e Piteira; António Pedro, Leandro e Romero; Orlando, Romeu, Bispo, Martinho e Anacleto. Treinador: József Szabó.

GRUPO DESPORTIVO DA CUF: Libanio; Pedro Gomes e João do Vale; Orlando, Palma e Carlos Alberto; Barriga, Arsénio, Sérgio, Luis e André. Treinador: Humberto Buchelli.


Primeira parte: 1-0.

Aos 4 minutos, João do Vale lesionou-se num pé, pelo que teve de abandonar o terreno, só regressando cinco minutos após.

Aos 31 minutos, 1-0. Bispo acorrendo a um centro da esquerda, efectuado por Anacleto, cabeceou a bola com boa conta para ROMEU, e este, após ter dominado o esférico, rematou fortíssimo, por alto, batendo Libanio.

Segunda parte: 2-0.

Aos 15 minutos (60 minutos), 2-0. Contra ataque dos caldenses, com uma fuga de Anacleto, pela esquerda. O centro, rasteiro, partiu na direcção de Bispo, mas este, inteligentemente, deixou seguir para ORLANDO que, absolutamente á vontade, fez o golo na corrida, com um remate rasteiro.

Finalmente aos 39 minutos (84 minutos), 3-0. Martinho marcou um «canto» no lado direito, Libanio rechaçou a bola com uma «palmada» e ANACLETO, aproveitando o facto do guardião «cufista» se encontrar fora das redes, enviou o esférico para a baliza, fazendo-o passar em arco por cima de um «molho» de jogadores, e obteve assim o golo da sua equipa.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A BOLA"): Afinal o jogo de ontem no Campo da Mata que se previa de resultado muito discutido até final, acabou por ser ganho pelos caldenses, com muito maior facilidade do que se julgaria. E com toda a justiça, diga-se desde já. Quando foi atingido o primeiro quarto de hora de jogo a equipa local tinha já desenhado uma boa meia duzia de lances de ataque bem urdidos...«cabeça» de Romero dada de cima para baixo (como manda as regras) e que Libanio travou com dificuldade mesmo sobre o risco de baliza; remate de Romeu ao lado, sem deixar bater o esférico no chão, a concluir uma boa avançada entre António Pedro, Bispo e Orlando e, ainda um pontapé frouxo de Martinho (dado metade no terreno e metade no esférico) após excelente «entrega» de Bispo, que com uma magnífica torsão do corpo, «tirou» Palma da sua frente...No Caldas, duma maneira geral, todos cumpriram. Na defesa, só Piteira entrando por vezes «de olhos fechados» (duma dessas vezes, quase no final ele foi a própria vitima do seu entusiasmo descontrolado) falhou aqui e além. Rita, Amaro e Leandro, sempre certos. Romero, magnífico, principalmente no jogo de cabeça. António Pedro, o batalhador de sempre. No ataque só Martinho destoou, a rematar. Anacleto teve uma reaparição verdadeiramente auspiciosa.


# 26.ª Jornada: TORREENSE, 1 - CALDAS, 0 (29 de Abril de 1956).


Na crónica do jornalista Acácio Correia, publicada no Jornal “A Bola”, no dia 30 de Abril de 1956, titulava-se: “Vento a mais futebol a menos...".

Campo das Covas, em Torres Vedras,

Árbitro: Hermínio Soares, de Lisboa,

SPORT CLUBE UNIÃO TORREENSE: Gama; Amílcar e Fernandes; Rui André, António Manuel e Gonçalves; Carlos Alberto, José da Costa, João Mendonça, Fernando Mendonça e Martins. Treinador: Oscar Tellechea.
 
CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Amaro e Piteira; Romero, Leandro e António Pedro; Vilaverde, Orlando, Bispo, Romeu e Anacleto. Treinador: József Szabó.

Resultado da primeira parte: 1-0.

Apesar do Torriense ter exercido acentuado domínio, pois tinha o vento a favor, o tento foi-se-lhe negado, como por exemplo aos 32 minutos, em que Martins atirou à base do poste.

Aos 40 minutos, o mesmo Martins recebeu ordem de expulsão, depois duma jogada em que disputou a bola com dois adversários.
Finalmente, já no último minuto (45 minutos), os donos da «casa» fizeram o seu solitário e único da partida: depois de um lance da direita, JOSÉ DA COSTA flectiu para a baliza, rematando bem. A bola depois de tocar em Romero encaminhou-se para as redes, depois de mudar de trajetória, o que enganou Rita, bem lançado para o primitivo rumo do remate.
No segundo tempo, não se registaram golos apesar dos visitantes, agora com a ajuda do vento terem por vezes dominado com insistência. Todavia, a melhor oportunidade foi desperdiçada por Fernando Mendonça que atirou à trave, depois de brilhante trabalho individual.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A BOLA"): Um jogo entre os novos primodivisionários que vieram para ficar, costuma ter a recomendá-lo, quanto mais não seja, o espectáculo aliciante de uma luta sem tréguas, fruto de uma rivalidade que vem já dos tempos em que ambos lutavam pela primazia da II Divisão...A acrescentar a isso, havia a necessidade que cada um deles tinha de ganhar, para fugir a qualquer percalço, pois nenhum dos dois contentores estava livre de ser relegado para o perigoso penúltimo lugar, com os consequentes sobressaltos dos jogos de passagem, sempre contingentes. Por todos estes antecedentes, pela expectativa que rodeava mais este «derby» da região [oestina], era de se esperar muito mais do embate de ontem, quanto mais não fosse no aspecto emocional. Mas devemos dizer, desde já, que até nesse capítulo o jogo desiludiu, apesar do 1-0 dar a entender luta renhida, com possibilidade duma reviravolta, por parte do vencido. Ora até isso esteve arredio do campo...mas disto não terão as duas equipas exageradas culpas, já que o vento, um dos grandes inimigos do jogo, as afligiu grandemente. O Torriense foi o primeiro a desfrutar da sua ajuda...lançando-se no assalto da baliza contrária...O Caldas...tratou de dispor as coisas para neutralizar as arremetidas dos donos do terreno, recuando os médios, e trocando os interiores de lugar, entre si...Romero alinhava com os seus três defesas, enquanto António Pedro, na sua maneira habitual, se bem que recuasse, era o encarregado do transporte do jogo para a frente, de parceria com Romeu...Assistiu-se, então à luta travada entre a defesa do Caldas e o ataque do Torriense...A vantagem foi inteirinha para a defesa visitante, a actuar com autoridade e acerto, na sua toada de destruir a todo o transe...Só depois de passado o primeiro quarto de hora, começaram os visitantes a fazer rolar a bola, no meio do terreno, sem pressas mas com relativo acerto, tentando depois os contra-ataques. [Na segunda parte]...Logo foi patente que o Torriense já sabia que esperava o «desabar» do jogo para as proximidades das suas redes e tratou de se acautelar, fazendo recuar José da Costa [médio]. E logo dois cantos seguidos deram a noção, de que o Caldas «andava à procura do golo», que esteve quase a «aparecer» quando um descuido de Gonçalves deu a Anacleto a possibilidade de criar perigo. O destino, porém quis que as duas equipas ficassem equilibradas, quando Vilaverde sofreu uma distensão muscular. Continuou no seu posto...mas praticamente deixou de contar para a equipa [A partir daí]...Mais um golo dos torrienses traria mais justiça ao resultado, dado que o Caldas mostrou falta de garra.

 

FIM DA SEGUNDA VOLTA E DA ÉPOCA DE 1955/1956.

O Caldas Sport Clube, entre 14 equipas, ficou posicionado na 11.ª posição, com 19 pontos conquistados (com os mesmos pontos do 12.º classificado, o Atlético Clube Portugal e do 13.º classificado, a Académica de Coimbra), garantindo a sua permanência na Divisão principal do futebol nacional, devido a 6 vitórias; 7 empates; e 13 derrotas, tendo marcado 29 golos e sofrido 50 golos. Tendo sido o seu melhor marcador, o jogador BISPO, com 6 golos marcados. Numa Época, em que o F.C. Porto se sagrou Campeão Nacional, e o Sporting Clube de Braga acabou por descer à II Divisão Nacional, por ter ficado em 14.º lugar.




 Capa da Caderneta de Cromos: História e Figuras
do Campeonato Nacional de Futebol da 1.ª Divisão
1955/1956. Editora: Mundo de Aventuras.