Caldas Sport Clube 1954/55

Caldas Sport Clube 1954/55

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Domingo Garófalo, um habilidoso mediocampista ítalo-argentino...

Domingo Garófalo nasceu em Bari, Itália, em 1926, tendo emigrado, com os seus pais, para a Argentina, mais propriamente para a capital Buenos Aires, em 1935, quando tinha apenas 9 anos. 

O antigo jogador internacional Roberto Cherro ainda hoje, a par com Martin Palermo, o máximo goleador de todos os tempos do Boca Juniors (218 golos, em 301 partidas oficiais, entre os anos de 1926 a 1938), convenceu-o a tornar-se jogador profissional, quando já tinha 20 anos (até essa altura, Garófalo, devia jogar no futebol amador), sendo o seu primeiro clube o Argentinos Juniors, no qual jogou entre 1948 e 1951. 

Atravessou, logo depois, a fronteira para jogar no Uruguai, mais propriamente, no Wanderers de Montevideu, onde permaneceu até 1954, regressando ao seu país de adopção para jogar no Club Atlético de Temperley, na cidade argentina como o mesmo nome, onde jogou uma época apenas (1954-1955) - destacando-se como um dos seus melhores jogadores. Ficou conhecido, em 11 de Setembro de 1954, por ter marcado dois golos e ter tido, ao mesmo tempo, uma actuação memorável num derby local entre o Temperley e o Los Andes (da cidade de Lomas Zamora) da zona sul da Grande Buenos Aires. Este jogo ficou com o título, na imprensa local, como "O Día del Maestro (Garófalo)".


 Garófalo no Club Atlético Temperley


No ano de 1955 aventura-se no futebol europeu (tal como muitos compatriotas seus que, por esta altura, se espalham por diversos campeonatos europeus) iniciando o périplo por vários clubes do futebol português com a particularidade de se manter apenas uma época em cada um deles. Representando assim: o Sporting Clube de Braga (1955-1956); Caldas Sport Clube (1956-1957, onde já chegou com 30 anos); Clube Oriental de Lisboa (1957-1958); Vila Real (1958-1960, aqui já esteve dois anos, como Jogador/Treinador); e Desportivo de Chaves (1960-1961, acumulando, novamente, as funções de Jogador com a de Treinador).

Mais tarde voltou à Argentina onde acabou por falecer.




quarta-feira, 9 de novembro de 2016

1.ª Divisão - Época 1956/1957 - 1.ª Volta


# 1.ª Jornada: CALDAS, 4 - ORIENTAL, 2 (09 de Setembro de 1956).

Na crónica do Jornal "A Bola", de 10 de Setembro de 1956, assinada por Carlos Correia, titulava-se: "Jogo agradável e um resultado certo".

Campo da Mata, em Caldas da Rainha,

Árbitro: Francisco Guerra, do Porto,

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Amaro e Fragateiro; António Pedro, Abel (ex-Sporting de Braga) e Romero; Anacleto, Saraiva (ex-Salgueiros), Domingo Garófalo (Ítalo-Argentino, ex-Sporting de Braga) e Sarrazola (ex-Sporting da Covilhã). Treinador: Fernando Vaz (ex- Vitória de Guimarães).

CLUBE ORIENTAL DE LISBOA: Edmundo; Morais e Capelo; Cordeiro, Fernandes e Garcia; Moreira, Leitão, Rogério "Pipi" Lantres de Carvalho (ex-jogador do Sport Lisboa e Benfica), Martinho (ex-Caldas) e Almeida. Treinador: Lorenzo Ausina (Espanhol).

Ao intervalo já os donos da «casa» ganhavam por 3 a 1.

Precisamente à passagem do primeiro quarto de hora (15 minutos), Fernandes, postado em frente das suas balizas, a uns escassos metros fora da área de rigor, para interceptar um cruzamento aparentemente inofensivo, meteu as mãos à bola em vez de tentar jogá-lo de cabeça. ROMEU encarregou-se da marcação do competente «livre». O chuto saiu forte e rasteiro, para o lado esquerdo, e o esférico só parou ao tocar nas malhas.

Aos 23 minutos os grupos voltaram à igualdade no marcador. Uma excelente iniciativa de Rogério "Pipi" terminou com um centro deste, lançado da extrema-esquerda, mas com conta tal que ALMEIDA, no posto de interior direito, fez facilmente o resto...com um toque que apenas exigiu subtileza.

A «resposta» não tardou mais que um escasso minuto (24 minutos)... «Deu-a» GARÓFALO, numa insistência, depois de ter desferido o primeiro remate, que se «perdeu» contra o corpo de um adversário.

Mais 5 minutos de jogo (29 minutos) e novo tento dos caldenses. António Pedro, carregado irregularmente, marcou o «livre» para o «barulho». Depois de uma troca de passes entre Saraiva e Romeu, acorreu ANACLETO para, com a cabeça, resolver o problema da melhor maneira...para a sua equipa.

Dezoito minutos (63 minutos) após o recomeço os visitantes reduziram a diferença. Um chuto rasteiro - rápido e «seco» de MARTINHO foi o ponto final de uma ofensiva bem conduzida, facilitada, porém, de certo modo, pela desatenção da defesa antagonista.

Faltavam cinco minutos (85 minutos) para o termo da contenda quando o Caldas pôde respirar fundo...SARAIVA quis rematar de pronto, um «canto» marcado na direita, mas só à segunda tentativa apanhou, a bola em cheio e fez com que esta transpusesse o limite fatal, dando, finalmente, o ambicionado sossego à equipa e aos seus partidários.


CRÓNICA DO JOGO (JORNAL "A BOLA"):  Quem tivesse acompanhado o desafio com um cronómetro na mão talvez chegasse à conclusão de que a bola esteve no meio-campo defendido pelos locais do que fora dele...Efectivamente, com excepção de um curto período - que durou talvez um quarto de hora - entre o princípio da segunda parte e a marcação do segundo ponto dos lisboetas, os vencedores «mandaram no terreno, e detiveram o comando das operações, mesmo quando, mais na aparência do que na realidade, eram os «orientalistas» que jogavam na ofensiva. Então, competia às linhas atrasadas do Caldas entrar em acção e, também neste capítulo, a superioridade dos visitados era evidente...O desafio, pode dizer-se, nunca chegou a enfastiar; disputado sem primores técnicos, é certo, decorreu, no entanto, com extrema correcção, sem prejuízo do entusiasmo e da relativa vivacidade com que se empregaram todos os jogadores. Os golos vieram, também, nas melhores alturas para manter o interesse dos espectadores, e até, esperanças dos afeiçoados das duas equipas, sendo oportuno registar que do «onze» de Marvila nunca faltaram os incitamentos e os aplausos de uma numerosa falange de apoio. Talvez fosse mesmo essa a única superioridade dos visitantes...porque no resto...o Caldas manteve supremacia: no fio do jogo desenvolvido e, até, nas ocasiões de perigo criadas junto das duas balizas.


# 2.ª Jornada: V. SETÚBAL, 1 - CALDAS, 1 (16 de Setembro de 1956.

Na crónica de Carlos Canário no Jornal "A Bola", de 17 de Setembro de 1956, titulava-se: "Ganhar (para qualquer das equipas) seria prémio imerecido".

Campo dos Arcos, em Setúbal,

Árbitro: Inocêncio Calabote (Évora),

VITÓRIA FUTEBOL CLUBE (VITÓRIA DE SETÚBAL): Justino; Manuel Joaquim e Russo, Orlando, Emídio Graça e Pinto de Almeida; Inácio, Soares, Fernandes, Miguel e Corona. Treinador: Humberto Buchelli.

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Amaro e Fragateiro; Romero, Abel e António Pedro; Anacleto, Garófalo, Saraiva, Romeu e Sarrazola. Treinador: Fernando Vaz.

1.ª parte: 1-1,

Iam decorridos doze minutos de jogo quando Rita o guardião caldense, deixou inexplicavelmente bater uma bola no terreno nas proximidades da sua baliza, tendo apenas tempo de a devolver com uma palmada. O esférico foi ter a Corona que prontamente o endossou a FERNANDES. Este não teve dificuldades em apontar o único tento da sua equipa.

Os caldenses estabeleceram a igualdade aos vinte e sete minutos, quando António Pedro apontou «um livre» indirecto mandando a bola pelo ar para a grande área adversária. Aí Romeu tocou a de cabeça para SARAIVA que, isolado, esperou a saída de Justino e atirou a contar.


CRÓNICA DO JOGO (JORNAL "A BOLA"): Muito pobre foi o encontro disputado entre sadinos e caldenses...Tão frouxamente se exibiram os dois conjuntos que, quanto a nós, a vitória seria prémio imerecido para qualquer deles, pelo que o empate...esta certíssimo, se não pelas oportunidades de golo que se verificaram, pelo menos quanto á deficiente exibição de ambos...Achamos que equipas da Divisão principal têm de dar-nos um futebol superior ao que foi praticado pelos dois contendores...Nos caldenses a defesa destruiu muito jogo. António Pedro foi o seu elemento mais destacado, num papel de verdadeiro sacrificado. Garófalo e Saraiva também se exibiram a contento. [Em suma] tudo isto porém, é pouco para um jogo que tem vinte e dois intervenientes que devem estabelecer entre si um elo de ligação. Esforços individuais em prejuízo do conjunto foi a nota dominante deste encontro que pode e deve enfileirarão lado daqueles que são para esquecer.


Disputa da bola nas alturas, por parte
de Inácio (7) e Romero (4), o que
mostrou o equilíbrio verificado
no encontro Vitória-Caldas.
Fonte: Jornal "A Bola".



# 3.ª Jornada: CALDAS, 0 - BARREIRENSE, 1 (30 de Setembro de 1956)

Na crónica assinada por Carlos Correia no Jornal "A Bola", no dia 01 de Outubro de 1956, titulava-se: "Equipa visitada «não quis» ganhar o desafio".

Campo da Mata, em Caldas da Rainha,

Árbitro: Mário Garcia (Aveiro),

CALDAS SPORT CLUBE: Vítor; Amaro e Fragateiro; Romero, Abel e António Pedro; Anacleto, Romeu, Saraiva, Garófalo e Sarrazola. Treinador: Fernando Vaz.

FUTEBOL CLUBE BARREIRENSE: Isidoro; Faneca e Silvino; Duarte, Pinto e Vale; Amândio, José Augusto, Oñoro, Faia e Josef Fabian. Treinador-Jogador: Josef Fabian.

O golo solitário do desafio marcou-se ao cabo de uma hora e um quarto de jogo (75 minutos). Assim: uma das muitas tentativas do Caldas teve como consequência um dos raros contra-ataques operados pelos visitantes. A defesa local, apanhada de surpresa, «oscilou» nitidamente. Alguns jogadores deram a sensação de contarem com uma deslocação, que não existia. Mais afoitos os atacantes barreirenses pensaram, apenas, na perspectiva do golo que podia ser, como foi, o da vitória. «Passados» Abel e Fragateiro, restou a José Augusto, que estava da posse do esférico, atrair o guarda-redes (Vítor). Mal este se adiantou, como, de facto, lhe competia, a bola foi transferida, com um toque ligeiramente atrasado, para AMÂNDIO, que passava para o centro do terreno. E o chuto deste, leve, mas certeiro, encaminhou a bola para as redes desguarnecidas.

CRÓNICA DO JOGO ("A BOLA"): O Caldas, depois de ter «consentido» uns curtos períodos de luta equilibrada, logo a seguir ao pontapé inicial e ao do recomeço, assenhorou-se verdadeiramente da situação, instalando-se, por assim dizer, no meio campo defendido pelos adversários. As ocasiões de golo a seu favor foram em série e foi visível - mesmo esgotante - o labor dos elementos das linhas atrasadas da turma alvi-rubra (Barreirense). Estes porém, souberam organizar-se da melhor forma, poupando o mais possível de trabalho o guardião do último reduto, o qual, mesmo assim, teve um bom punhado de intervenções de boa categoria...e porque os atacantes caldenses, nunca tiveram talento - e também velocidade - para concretizarem a superioridade territorial, digamos impressionante que exerceram...Convenceram-se, de certo, que o golo havia, fatalmente «que calhar». E atrás do primeiro, outros...o pior foi que, com o andar do tempo, sempre com o arreliador «0» no pensamento, começaram as primeiras manifestações de enervamento. Depois quando, a um quarto de hora do fim, ainda com muito por jogar, o Barreirense obteve o seu tento, do enervamento facilmente se passou...ao destrambelhamento...Já nada havia a fazer, antes pelo contrário, pois um segundo ponto, nas balizas de Vítor, esteve á vista, por sinal muito semelhante ao que ditou o resultado...[Nos caldenses] Vítor quase que não foi solicitado a defesas difíceis, ao contrário do seu adversário (Isidoro) não teve nenhuma. Os defesas laterais cumpriram e chegaram mesmo a ser audaciosos, integrados na toada ofensiva sempre adaptada pela equipa. Dos médios, António Pedro salientou-se a boa altura, merecendo uma das melhores classificações da tarde. Da linha dianteira impressionaram-nos a «persistência» com que Anacleto desperdiçou os melhores ensejos do desafio, o irrequietismo de Romeu, a boa vontade de Saraiva (que nos agradou mais no dia da estreia - ver Caldas-Oriental) a precisão de alguns passes de Garófalo (executados, porém, «au ralenti») e a voluntariedade de Sarrazola.


# 4.ª Jornada: TORREENSE, 4 - CALDAS, 0 (07 de Outubro de 1956).

Na crónica do Jornal "A Bola", de 08 de Outubro de 1956, da autoria de Reinaldo Monteiro, titulava-se: "Sentido prático e sorte na base de um triunfo justo"

Campo das Covas, em Torres Vedras,

Árbitro: Fernando Valério, de Setúbal,

SPORT CLUBE UNIÃO TORREENSE: Gama; Mergulho e Fernandes; Belén, Forneri e Monteiro; Carlos Alberto, José da Costa, João Mendonça, Matos e Pina. Treinador: Cândido Tavares.

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Abel e Fragateiro; António Pedro, Romero e Evaristo; Orlando, Romeu, Saraiva, Garófalo e Sarrazola. Treinador: Fernando Vaz.

Dois golos em cada metade, sem resposta, não obstante os desesperados esforços dos caldenses para minorarem a derrota.

O primeiro golo surgiu um tanto inesperadamente, aos 5 minutos, e derivou de uma escorregadela do extremo-esquerdo visitante, que perdeu o domínio do esférico, no seu campo, em favor de Belén. Este deu a bola a José da Costa, que imediatamente a passou em profundidade para o centro do terreno. JOÃO MENDONÇA, com a defesa hesitante, adiantou-se e quando o guarda-redes lhe saiu ao caminho, limitou-se a atirar o esférico para o lado mais descoberto.

Aos 18 minutos, o Torriense aumenta o resultado para 2-0. Pina, no lugar de interior-direito, abriu á ponta, de onde José da Costa repetiu o passe mortal do golo anterior. JOÃO MENDONÇA, desmarcado entre dois adversários, bateu de novo o guarda-redes quando este abandonou o seu lugar, numa tentativa infrutífera para evitar o tento.

Nos primeiros 5 minutos da segunda parte, o resultado final do encontro ficou estabelecido. Da «bola de saída» derivou uma avançada, que terminou em «canto». A marcação deste «castigo» originou grande confusão diante das redes, á qual PINA, pôs termo com um remate para trás, em desequilíbrio, em jeito peculiar ao jogador. E logo aos 5 minutos, por falta de Evaristo na grande área (a «mão» pareceu-nos casual), MATOS obteve o quarto e último golo do desafio, transformando a grande penalidade com um chute que levou a bola ao fundo da baliza, depois de fazer tabela no poste.

CRÓNICA DO JOGO ("A BOLA"): Nada há que opor ao mérito da vitória alcançada pelos torrienses em sua «casa» contra os adversários a quem, possivelmente, mais gostam de ganhar...De igual modo os caldenses tiveram oportunidades magníficas para atenuar a dureza da derrota, mas faltou-lhes, em vários lances, o remate fácil, pronto, colocado...Dois grandes pontapés, daqueles que levantam os espectadores...atirados por Saraiva e Romeu podiam ter melhorado a actuação global da equipa caldense e tê-la encarreirado para melhor resultado, se Gama não «calhasse» estar no caminho da bola. Mesmo assim - tal a «pólvora» desses remates - o guardião torresão deixou fugir o esférico, sem que ninguém ocorresse à recarga! Claro que não seria a possível marcação de um golo nestes lances gorados que transformaria a equipa visitante ao ponto de lhe permitir uma reviravolta surpreendente e a conquista de grande proeza. Mas, constituindo o prémio devido ao esforço dos caldenses, tê-los-ia por certo levado a produzir exibição mais de acordo com as actuais possibilidades da equipa, onde não falta valores individuais, mas que ontem se deixaram ofuscar pelo trabalho dos adversários e, também pela felicidade que estes tiveram em momentos decisivos. 


# 5.ª Jornada: CALDAS, 1 - ACADÉMICA, 0 (14 de Outubro de 1956).

Na crónica do Jornal "A Bola", da edição de 15 de Outubro de 1956, da autoria do jornalista Moreira da Cruz, titulava-se: "Sobriedade de processos e velocidade de antecipação - Bases de uma justa vitória".

Campo da Mata, nas Caldas da Rainha,

Árbitro: Abel Macedo, de Lisboa,

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Rogério (ex-Benfica) e Fragateiro; Romero, Abel e Saraiva; Romeu, António Pedro, Janita (ex-Ginásio de Alcobaça), Garófalo e Sarrazola. Treinador: Fernando Vaz.

ASSOCIAÇÃO ACADÉMICA DE COIMBRA: Ramin; Marta e Melo; Abreu, Mário Torres e Mário Wilson; Samuel, André, Malícia, Mota e Rocha. Treinador: Fernando Leite (Nana) e Cândido de Oliveira (Coordenador Técnico).

No aquecimento, antes do jogo, o jogador Bentes (Académica) magoou-se, entrando para o seu lugar o seu colega de equipa Abreu.

O único golo da partida foi obtido aos 29 minutos do 1.º tempo. ANTÓNIO PEDRO, surgindo com oportunidade a um ressalto da defesa, ficou absolutamente só defronte de Ramin, tendo tempo bastante para deixar bater a bola no terreno, escolher o sítio para onde chutar e fazer o golo com toda a serenidade.

CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A BOLA"): Quando antes chegámos ao Campo da Mata, pessoas afectas ao grupo local, depois de nos exprimirem o receio, o grande receio que a Académica lhes infundia impressionados com as referências que tem sido feitas ao grupo escolar, acrescentaram-nos, em tom lamentoso, que «o Caldas estava este ano a jogar muito pouco». Afinal, depois de termos assistido á exibição de ontem, temos, necessariamente, de nos decidirmos por uma das afirmações desta alternativa: ou o público das Caldas da Rainha está este ano mais exigente ou, então, a equipa caldense subiu ontem, muito de nível. Porque não há dúvida, o grupo da «casa» teve ontem uma exibição a todos os títulos aceitável e a sua vitória sobre o grupo da Académica (que acentue-se, não é um grupo qualquer...) não pôde sofrer reticências. A vitória do Caldas foi, em primeiro lugar, o êxito da sobriedade. Os seus processos de jogo foram simples, sem arabescos nem «rodriguinhos», mas o que importaram de mais vistoso, acarretaram também maior eficiência nos fins - atingir em resultados mais sólidos. Já se sabia que a Académica não iria encontrar facilidades neste encontro. Por um lado, campo «pelado»...Depois, a chuva que precedeu o desafio, tornando o terreno mais «pesado» (e vamos lá, vamos lá, para um campo sem relva, ele podia estar muito pior)...E, por último, e como dificuldade maior, a própria equipa do Caldas, não só no que se refere ao «tipo» de jogo tão diferente do seu, como também no que havia de revelar «ânsia» de não perder. Que a jornada do Barreirense não «podia» repetir-se...Compensando a sua menor valia técnica (em comparação com a Académica), o Caldas adoptou um jogo simples, directo, de poucos passes, mas eficácia de processos. E a verdade, é que através de toda a partida se mostrou sempre muito mais perigoso. Basta comparar a vida calma de Rita com a meia dúzia de defesas dificílimas que Ramin foi forçado a efectuar. Ainda antes do golo solitário, já António Pedro, aos 19 minutos tinha desperdiçado uma ocasião soberana permitindo a defesa a pontapé de Ramin. Depois aos 38 minutos, registou-se um lance que provocou forte discussão e acalorados protestos por banda do público local: Janita, já dentro da grande área de Coimbra, foi derrubado por Mário Wilson. O árbitro deixou seguir o jogo, não concedendo a grande penalidade , mas em nossa opinião, o lance foi de facto irregular, embora admitamos que o avançado-centro local tenha exagerado um pouco o aparato da queda...Toda a defesa do Caldas jogou excelentemente. Entre todos destaque-se o jovem Rogério, estreante na equipa, que foi uma autêntica revelação. «Coração», velocidade e despacho pronto, foram os seus melhores predicados. Saraiva jogou também muito bem. Sempre em jogo, foi uma pedra básica na ligação da sua equipa. Só talvez não careça de alardear tamanha «virilidade». Na linha da frente os «estrategas» António Pedro e Garófalo, de créditos firmados encontraram um excelente colaborador em Janita (outro estreante). Este moço, embora tenha sido forçado a actuar quase todo o encontro de cabeça ligada, após choque com Torres (no final do encontro teve de ser saturado com três «pontos»), nem por esse facto se mostrou menos «mexido» e valente, continuando até final a disputar todos os lances de cabeça. Os dois extremos (Romeu e Sarrazola) foram, quanto a nós, os elementos mais discretos da equipa.

 Os "estrategas" do meio campo
do Caldas, António Pedro e, o 
ítalo-argentino, Domingo Garófalo.  



# 6.ª Jornada: BENFICA, 1 - CALDAS, 0  (21 de Outubro de 1956).

Na crónica do jornalista Silva Resende, do Jornal "A Bola", datada de 22 de Outubro de 1956, titulava-se: "Tudo à defesa! - Foi o lema visitante contra um ataque inferiorizado...Águas e Coluna foram muito lembrados".

Estádio da Luz, em Lisboa,

Árbitro: Libertino Domingues (Setúbal),

SPORT LISBOA E BENFICA: Bastos; Jacinto e Ângelo; Pegado, Artur Santos e Alfredo; Domiciano Cavém, Santana (Angolano), Isidro, Salvador e Palmeiro. Treinador: Otto Glória.

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Rogério e Fragateiro, Romero, Abel e Saraiva; Romeu, António Pedro, Janita, Garófalo e Sarrazola. Treinador: Fernando Vaz.

O único tento da partida foi obtido aos 38 minutos da primeira parte. Numa fase de assédio á baliza visitante, a bola sofreu vários toques sem se afastar da zona de perigo. PALMEIRO, na posição de interior direito (já antes trocara de posto com Cavém) atirou com boa colocação um pontapé cruzado e bateu Rita.

A dez minutos da segunda parte, Palmeiro, magoou-se ao tentar um pontapé com um defesa pela frente, teve de abandonar o rectângulo por cerca de um quarto de hora. Regressou, depois, para fazer número, pois estava absolutamente incapaz de jogar.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A BOLA"): Tendo a consciência da sua inferioridade relativa, o Caldas actuou sempre ao modo desse convencimento perfilhando o «tudo à defesa» como lema inalterável...O melhor jogador dos vencidos foi o guardião Rita. Atento, seguro e valente, teve tarefa de muito merecimento, socando sempre a bola quando as circunstâncias o exigiam e sempre para o melhor lado...Toda a rede defensiva revelou...excelente rapidez e notável serviço de entre-ajuda. É pena que a intenção de destruir se sobreponha, por sistema, à ideia de organizar jogo ou, pelo menos, ordená-lo para esse fim. Nessa primeira faceta, só há que render louvores pela decisão e acerto com que todos se houveram; mas já na outra - e em futebol eles têm de ser concomitantes - todos deixaram a desejar, se se exceptuarem certos períodos de Abel e Saraiva, designadamente na segunda parte. Destaque-se ainda a valentia de Rogério e Romero, e especialmente este último, contundidos em lances em que foi visível o seu espírito de sacrifício. A tarefa de organizar o ataque foi cometida a dois jogadores que sabem do seu ofício, mas não souberam ou não puderam  corresponder. António Pedro não atingiu a sua bitola, ao que nos pareceu por demasiada retenção da bola a propiciar ao adversário o desarme, quase sempre com êxito. Verdade seja que raramente tinha a quem endossar o esférico em boas condições. Também Garófalo deu, com algumas mostras de boa execução, uma demonstração confrangedora de falta de pernas e de capacidade física para disputar a bola. Teve o mérito de solicitar os seus companheiros com passes em profundidade, mas a defesa «encarnada» nunca se deixou bater em profundidade. Janita e Sarrazola foram, ainda os mais expeditos, prejudicados no entanto, por lentidão a passar e a conduzir a bola ou a dominá-la. Romeu nunca logrou estar em plano aceitável.


Equipa do Caldas que defrontou o Benfica,
no Estádio da Luz, no dia 21 de Outubro de 1956.
Em pé, da esquerda para a direita: Rita, Rogério,
Romero, Fragateiro, Saraiva e Abel.
Agachados, da esquerda para a direita: Romeu,
António Pedro, Janita, Garófalo e Sarrazola.




# 7.ª Jornada: CALDAS, 1 - SPORTING, 7 (28 de Outubro de 1956).

Na crónica do célebre jornalista Aurélio Márcio, do Jornal "A Bola", datada de 29 de Outubro de 1956, titulava-se: "Prometedora exibição [do Sporting] coroada com golos".

Campo da Mata, em Caldas da Rainha,

Árbitro: Abel da Costa, do Porto,

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Sarrazola e Fragateiro (capitão); Saraiva, Abel e Romero, Romeu, António Pedro, Janita, Garófalo e Lenine. Treinador Fernando Vaz.

SPORTING CLUBE DE PORTUGAL: Carlos Gomes, Caldeira e Pacheco; Pérides (ex: Académica de Coimbra), Passos (capitão) e Juca [Júlio Cernadas Pereira], Hugo, Vasques, Pompeu, Osvaldinho (Brasileiro) e Martins. Treinador: Abel Picabêa (Argentino).

Primeira parte: 0-2.

Aos 3 minutos: 0-1. Pontapé de Carlos Gomes a repor a bola em jogo, fazendo-a cair perto da grande área do Caldas. Fragateiro deixou a bola bater á sua frente, hesitou. Rita também saiu mal da baliza e HUGO chegou primeiro para tocar o esférico para a rede deixada deserta.

O Sporting fez 2-0 à meia hora (30 minutos). Pérides escapou-se a Saraiva dentro da grande área dos visitados e, quase sobre a linha de cabeceira, centrou atrasado, rasteiro. VASQUES, em corrida, meteu o pé à bola sem preparação. Rita mergulhou sem resultado, pois a bola bateu no poste direito e ressaltou para dentro da baliza.

Incidência na 1.ª parte: Por volta dos 18 minutos, Abel (Caldas) sofreu uma distensão muscular e abandonou o campo para fazer tratamento. Quando regressou, aos 28 minutos, foi para o ataque, visivelmente inferiorizado. Romero recuou para defesa central e Romeu para médio.

Segunda parte: 1-5.

Aos 5 minutos (50 minutos), 0-3. Sarrazola provocou um «livre» a meio do seu meio-campo, no flanco esquerdo. Juca marcou o castigo, cruzando a bola para o poste contrário; Rita e Fragateiro ficaram parados e HUGO teve tempo de vir de longe e com um toque pôde fazer o golo.

Aos 16 minutos (61 minutos), 1-3. Lenine ganhou um lance de bola alta a Pacheco. JANITA ficou de posse da bola e rematou sem demora. Carlos Gomes mergulhou, a bola foi ao poste direito e ressaltou para dentro da baliza.

Cinco minutos depois (66 minutos), o Sporting colocou o resultado em 1-4. Martins entregou a bola a POMPEU que passou Romero. Rita saiu mal da baliza e o avançado centro [angolano] do Sporting meteu a bola na baliza deserta.

Aos 31 minutos (76 minutos), 1-5. PÉRIDES, de fora da área, rematou com força. A bola era defensável, mas Rita deixou-a passar.

Aos 33 minutos (78 minutos), 1-6. Jogada de Hugo para Vasques que rematou, Rita repeliu a bola e POMPEU fez a recarga com êxito.

Aos 43 minutos (88 minutos), 1-7. Pérides, novamente de fora da área, atirou forte à baliza. Rita mergulhou, mas não segurou a bola e POMPEU fez o golo [e realizou um hat-trick neste jogo].


CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A BOLA"): O Sporting eliminou com a maior das facilidades um adversário que se previa vir a oferecer-lhe grande resistência. Ao contrário do que o resultado podia deixar supor, não desgostámos do Caldas, limitando embora a nossa apreciação ás circunstâncias que resultam da categoria individual dos seus jogadores, alguns de técnica modesta refreadora da espontaneidade do lance. A equipa nunca forneceu a sensação de desorganizada, apesar de naturalmente afectada pelo desnível do marcador e pela inferioridade física dos seus jogadores. Algumas peças essenciais falharam mas a equipa manteve sempre a sua estrutura e movimentação geral. A inferioridade dos dois homens da cobertura da baliza, Abel e Romero precipitaram um resultado demasiado desnivelado, que um guarda-redes [Rita] desatento e hesitante, não pode evitar. Sarrazola, extremo-esquerdo, chamado a defesa, foi um jogador desembaraçado, se atendermos ao desconhecimento que tem do lugar. Fragateiro nunca se mostrou capaz de acompanhar Hugo nas suas embalagens nem de se antecipar. Saraiva, de começo, andou perdido entre os avançados do Sporting, à procura do lugar e do ritmo do jogo, para acabar em bom plano, revelando boas possibilidades. A linha de ataque tem nos jovens Romeu e Janita, dois jogadores rabiosos e perturbadores para qualquer defesa. António Pedro, esforçado como habitualmente, individualizou um pouco a sua actuação, tal como Garófalo que decididamente marca um tempo de paragem de cada vez que detém a bola. Por outras palavras: o seu domínio de bola está ao serviço do adversário, quando a sua excelente técnica individual poderia servir a equipa, com mais expediente e desembaraço. Lenine reentrou na equipa sem competição e teve no segundo tempo, iniciativas de aplaudir.



# 8.ª Jornada: SP. COVILHÃ, 0 - CALDAS, 0 (04 de Novembro de 1956)

Na crónica do jornalista, do Jornal "A Bola", Nunes Torrão, datada de 05 de Novembro de 1956, titulava-se: "Foi justo prémio para a equipa visitante".

Estádio José Santos Pinto, na Covilhã,

Árbitro: Correia da Costa, do Porto,

SPORTING CLUBE DA COVILHÃ: Albertino; Moreira e Lourenço; Pedro Martin (Espanhol), Amílcar Cávem e Fernando Cabrita; Carlos Ferreira, Manteigueiro, Victoriano Suaréz, João Lãzinha (=Lanzinha) e Pedro Mascaró (Espanhol). Treinador: Janos Szabo.

CALDAS SPORT CLUBE: Vítor; Rogério e Evaristo; António Pedro, Sarrazola e Saraiva; Pedro De La Vega (Espanhol), Orlando, Janita, Lenine e Anacleto. Treinador: Fernando Vaz.

Incidências do Jogo: Aos 34 minutos, Mascaró, de cabeça obrigou Vítor a defender para perto. Lãzinha rematou de pronto e a bola deu sensação de ter batido na parte interior da barra e ter voltado para fora. Os covilhanenses ainda levaram a bola para o centro do terreno, mas o árbitro não atendeu a sua pretensão. Na segunda parte, a 3 minutos do fim (87 minutos), o Caldas esteve à beira do triunfo, com um remate de Anacleto (após uma iniciativa de Orlando), que proporcionou a Albertino uma boa defesa.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A Bola") De facto o Caldas entrou no rectângulo disposto a contrariar as aspirações dos donos da casa (que ainda não tinham averbado o seu primeiro triunfo no campeonato). Sem pressas, com uma disposição defensiva bem escalonada, o Caldas, para vigiar Suarez, utilizou Saraiva, que conseguiu neutralizar pura e simplesmente o trabalho do espanhol. De resto toda a defesa visitante esteve sempre em grande plano, porque à acção gigantesca de Saraiva e à personalidade de Sarrazola correspondeu um trabalho pendular de Orlando e António Pedro. Tudo certinho, certo, tão exacto, tudo cumprido à risca, que nunca ninguém se apercebeu...de que os caldenses faltava nada menos que sete titulares, alguns dos quais pedras de tomo no conjunto. As «reservas» do Caldas, além do «entusiasmo» transbordante com que aceitaram com responsabilidades que sobre si pesava, alardearam um poder de antecipação impressionante - virtude que lhes valeu o terem ganho inúmeros lances...O Caldas pôde, assim, ver coroado de êxito o jogo que impôs ao adversário e este aceitou, ou melhor, não teve talento para contrariar.


# 9.ª Jornada: CALDAS, 1 - F.C. PORTO, 1 (11 de Novembro de 1956).

Na crónica do jornalista Vítor Santos, do Jornal "A Bola", datada de 12 de Novembro de 1956, titulava-se: "Um «brinde» de Saraiva deu aos campeões um ponto imerecido".

Campo da Mata, em Caldas da Rainha,

Árbitro: Hermínio Soares, de Lisboa,

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Amaro e Rogério; Saraiva, Sarrazola e Orlando, Lenine, Romeu, Janita, Garófalo e Anacleto. Treinador: Fernando Vaz.

FUTEBOL CLUBE DO PORTO: Pinho; Virgílio, Osvaldo Cambalacho; José Maria Pedroto, Miguel Arcanjo e Monteiro da Costa; Hernâni, Perdigão, "Jaburu", Sarmento e António Morais. Treinador: Flávio Costa (Brasileiro).

Na primeira parte não houve golos.

Incidência do jogo: Aos quinze minutos o defesa caldense Rogério magoou-se numa disputa de bola e permutou de posto com Anacleto, até ao fim.

O F.C. Porto foi o primeiro a marcar, havia cinco minutos (50 minutos) da segunda metade. Numa jogada por alto, aparentemente sem perigo imediato, Saraiva precipitou-se e deu com a mão na bola quando se apercebeu que ela lhe passaria por cima da cabeça. Na execução de grande penalidade, HERNÂNI chutou imparavelmente.

Os locais empataram aos 34 minutos (79 minutos). Sarrazola fez um passe pelo centro e GARÓFALO, que furtou a bola ao alcance de Monteiro da Costa e progrediu até à zona de remate atirou de maneira subtil, a iludir a saída do guardião (Pinho).

CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A BOLA"): A partida entre caldenses e portistas pode ser guardada por direito próprio no rol das surpresas do campeonato...[Esta] começou em clima de grande emoção com jogadas e perigo numa e noutra baliza...Estas primeiras jogadas tiveram o mérito de definir a estatura dos contendores e funcionaram certamente como um factor psicológico de forma desigual: em relação aos campeões como sintoma de intranquilidade pelo arrojo e «descaramento» dos locais, no tocante a estes como aceno e convite a maiores voos. E o facto é que o Caldas à custa dos passes e profundidade e das jogadas de dois ou três toques, começou a surgir em peso sobre a grande área nortenha tirando justo partido do tamanho do campo, quer porá intentar avançadas de contra-ataque rápido, quer para recuperar em condições de êxito...E o Caldas criou daí até ao intervalo sempre pelo processo de passes compridos de Garófalo ou das aberturas aos extremos, um bom punhado de lances perigosos, a constituírem um activo que lhe granjeou direito a melhor quinhão que o do empate sem golos. Lenine por duas vezes fez o «impossível»: não acertar no alvo...[Depois do golo do F.C. Porto na segunda parte] Aconteceu pois o inevitável: os caldenses cresceram mais ainda agora na mira de recuperar, e Garófalo não enjeitou, como antes, a ocasião que lhe apareceu...A partida terminou assim com a sensação iniludível da superioridade dos visitados tão expressa na acção global da equipa como no número de oportunidades que soube criar...Na turma do Caldas o entusiasmo constituiu a característica comum que deu aos jogadores um «élan» contagiante e uma insuspeitada eficácia de processos. Esse surto galvanizador disfarçou em muito alguns defeitos de execução e propiciou uma ligação sem quebras entre os vários sectores. [Destacaram-se] Amaro e principalmente Sarrazola fora os que mais disciplinaram o jogo, entregando algumas bolas jogáveis aos atacantes... (na qual) o melhor da frente foi Janita pelo seu sentido apurado de lance aparecendo sempre como cunha na defesa portista.


10.ª Jornada:  CUF, 1 - CALDAS, 0 (18 de Novembro de 1956).

Na crónica do jornalista Rui Martins, do Jornal "A Bola", datada de 19 de Novembro de 1956, titulava-se: "Pode-se jogar bem...a pensar nos pontos".

Campo D. Manuel de Melo, no Barreiro,

Árbitro: Inocêncio Calabote, de Évora,

GRUPO DESPORTIVO DA CUF: José Maria; Pedro Gomes e Vale; Orlando, Carlos Alberto e José Luis; Pedro Duarte, Luis, Bispo (ex-Caldas), Arsénio e Sérgio. Treinador: Janos Biri (Húngaro). 

CALDAS SPORT CLUBE: Vítor; Amaro e Rogério; Saraiva, Sarrazola e Orlando, Lenine, António Pedro, Garófalo, Romeu e Anacleto. Treinador: Fernando Vaz.

Primeira parte: 1-0.

O único golo verificou-se nos primeiros segundos e foi obtido por SÉRGIO, a passe de Bispo...e com certa contribuição do guardião caldense, pois o pontapé do extremo-esquerdo cufista foi mais centro do que remate.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A Bola"): Não era de esperar que a partida entre cufistas e caldenses tivesse a caracterizá-la uma toada tão agradável, de bom recorte futebolístico, «bonita» mesmo. E esta ideia (acentue-se) não era apenas resultante da posição que ambas as equipas ocupam na classificação, mas principalmente porque o estado do terreno (bastante enlameado, em virtude da chuva) em nada contribuía para que o jogo se desenrolasse de molde a agradar ao espectador...os cufistas constituíram a turma que mais trabalhou porque a vitória final não fugisse...E agora coisa curiosa e que se pode, até, considerar de paradoxal: O Caldas não merecia perder por mais de uma bola. Isto porque a sua defesa jogou em excelente plano - apenas Vítor não esteve sempre certo - e ainda porque nunca deixou de realizar ataques bem gizados, mercê da actividade - e bom jogo de António Pedro, Orlando e Saraiva...Romeu e Garófalo não se mostraram capazes de cumprir a sua missão de «primeiros atiradores». Romeu ainda tem a atenuante de se ter lesionado no primeiro tempo, mas o segundo não tem nenhuma. Garófalo foi simplesmente inofensivo; o [ítalo] argentino do Caldas jogou sem «chama» e nem sequer se deixou contagiar pela vivacidade e entusiasmo dos seus companheiros, que procuraram jogar com acerto. [Tal como] Sarrazola [que] jogou em grande plano e pode mesmo apontar-se, também como um dos «culpados» da escassa vitória dos cufistas.


# 11.ª Jornada: LUSITANO DE ÉVORA, 2 - CALDAS, 0 (25 de Novembro de 1956).

Na crónica do jornalista Moreira da Cruz, do Jornal "A Bola", datada de 26 de Novembro de 1956), titulava-se: "Ao «Lusitano 56» pode (e deve) exigir-se mais...".

Campo Estrela, em Évora,

Árbitro: Joaquim Campos, de Lisboa,

LUSITANO GINÁSIO CLUBE DE ÉVORA:  Dinis Vital; Polido e Vicente; Vieirinha, Falé e Athos; Fialho, Flora, Casaca, Angelo e Batalha. Treinador: Otto Bumbel.

CALDAS SPORT CLUBE: Vítor; Rogério e Sarrazola; Romero, Saraiva e Oliveira; Anacleto, António Pedro, Janita, Orlando e Lenine. Treinador: Fernando Vaz.

Primeira parte: 1-0. 

Incidência do jogo:  Aos 20 minutos, o médio caldense Oliveira, acusando uma distensão muscular, teve de derivar para o lugar de extremo-direito, visivelmente incapacitado. Para o seu lugar recuou Orlando.

Aos 21 minutos, 1-0: passe de Batalha a FLORA que, antecipando-se à saída de Vítor, marcou o golo à vontade.

Segunda parte: 1-0.

Incidência de jogo: O Caldas regressou ao terreno somente com dez elementos, pois Oliveira já não voltou dos balneários.

Aos 17 minutos (62 minutos), 2-0: Fialho, ocasionalmente na extrema-esquerda centrou com boa conta e Angelo rematou de cabeça à barra transversal; a bola caiu, verticalmente atrás de Vítor e foi FLORA (pela segunda vez), sobre o risco da baliza que obteve o golo.


CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A Bola"): Sem seis titulares e para além de ter ficado reduzido a 10 durante 70 minutos devido à lesão de Oliveira [O Caldas no relvado do Lusitano]...pouco ou nenhuns sinais de balanço ofensivo demonstrava. Embora, em boa verdade, se não possa afirmar que os caldenses se limitassem a defender a sua grande área...o certo é que bem raras vezes conseguiu ligar uma avançada com perigo até às proximidades de Vital. [No entanto] No Caldas, equipa transformada em manta de retalhos por obra de infortunio que lhe bateu à porta, há que louvar o modo sempre aguerrido como se bateu até final e a segurança da sua defesa. De uma turma que entrou em campo sem Rita, Amaro, Abel, Fragateiro (toda a defesa!), Romeu e Garófalo, e que, como se tanto azar não fosse já bastante, ainda se vê obrigada a jogar com menos um elemento [Oliveira], que mais se poderá exigir?. Vítor, Rogério, Saraiva e António Pedro e Janita foram os melhores. Anacleto quando recuou para defesa-esquerdo, também se houve muito bem.


# 12.ª Jornada: CALDAS, 1 - BELENENSES, 1 (02 de Dezembro de 1956).

Na crónica do famoso jornalista, do Jornal "A Bola", Carlos Pinhão, datada de 03 de Dezembro de 1956), titulava-se: "Um golo não chega para dar tranquilidade - lição para Os Belenenses".

Campo da Mata, em Caldas da Rainha,

Árbitro: Francisco Guerra, do Porto,

CALDAS SPORT CLUBE: Rita; Amaro e Abel; Romero, Saraiva e Orlando; Anacleto, António Pedro, Janita, Sarrazola e Rogério. Treinador: Fernando Vaz.

CLUBE DE FUTEBOL "OS BELENENSES": José Pereira; Pires e Moreira; Pellejero (Argentino), Figueiredo e Carlos Silva, Miguel Di Pace, Dimas, Miranda, Perez e Tito. Treinador: Fernando Riera.

A meio do tempo, 1-0 para o Belenenses, golo marcado por TITO, após uma jogada Dimas-Miranda-Dimas. Este, com um toque de calcanhar inesperado, abriu o caminho da baliza para o seu extremo-esquerdo (Tito).
O Caldas empatou aos 10 minutos (55 minutos) do segundo tempo, António Pedro marcou um «livre» no bico da grande área, do lado direito, adiantando a bola para a frente de SARRAZOLA. Este foi atrás dela e só apanhou quase sobre a linha de cabeceira, de onde chutou para as redes (?) metendo um golo «á Jesus Correia» (um dos antigos "cinco violinos" do Sporting Clube de Portugal) dos chamados de ângulo «impossível».

Resultado: 1-1.


CRÓNICA DO JOGO (A Jornal "A Bola"): O empate acabou por estar certo, pois constitui justo prémio para o Caldas, que foi uma equipa sem complexos de qualquer espécie (...de inferioridade, nem falar nisso!...) sempre mais igual a si própria, mais firme. No entanto, se tivesse de haver um vencedor, o Belenenses estava mais calhado para o triunfo, porque pôde patentear nítido ascendente, em dois períodos diferentes e com características igualmente bem diferenciadas...Ontem não houve nenhum avançado belenense, que «metesse medo» à defesa do Caldas. Esta muito pelo contrário, é que pôde sempre conter em respeito os avançados belenenses e chega-se, num instante, à conclusão diametralmente oposta: a defesa caldense é que «meteu medo» ao ataque belenense. Em conjunto e um por um. E não houve necessidade de incorrer em exageros de energia. Deve mesmo haver poucas defesas de tanto peso como a do Caldas e que sabia tão bem impor a sua presença.

SARAIVA é um excelente jogador.

Para já, impõe-se uma referência ao defesa-central do Caldas, que se nos revelou um jogador de surpreendentes recursos e muito bem talhado para o lugar. Saraiva dominou por completo Miranda com uma autoridade e, por vezes, até com uma sobrançaria, que fizeram lembrar Félix (antigo defesa do Sport Lisboa e Benfica) em mais de uma vez. Possante mas descontraído; o jogador de posição, certíssimo, enquanto foi o defesa-central, Saraiva mostrou também desembaraço de pés quando passou para médio de ataque, por troca com Romero - e, por sinal, foi até nessa altura que o Caldas se balançou melhor para a frente e conseguiu o seu golo.

De facto Romero e Orlando estavam a ser uns médios de ataque demasiadamente...de defesa - mas diga-se, em abono da verdade, que poucas vezes temos visto tão boa coligação de esforços e de movimentos entre a defesa e a meia-defesa de uma equipa. Mas, como médios de ataque, foram no muito menos...e esse recuo exige muito a António Pedro, que não nos parece nas mesmas condições óptimas da época passada. De onde se pode já concluir que o ataque caldense - com a atenuante de receber menos apoio da retaguarda foi tão inofensivo como o do Belenenses...Falta a citação individual de Amaro e Abel, como elementos de comprovada utilidade, e fica para Rita, em relação a José Pereira, a vantagem de não ter tido culpa alguma no golo sofrido. 

Ao Ataque - Eis uma imagem do Caldas - Belenenses
em que se vêm os avançados locais em ataque ao último
reduto dos «azuis». Moreira (Belenenses) chega atrasado a este 
«cabeceamento» espectacular de Janita (Caldas)
enquanto Anacleto (Caldas) aguarda o desfecho do lance.
Fonte: Jornal "A Bola".


# 13.ª Jornada: ATLÉTICO, 2 - CALDAS, 2 (09 de Dezembro de 1956).

Na crónica do jornalista Moreira da Cruz, do Jornal "A Bola", datada de 10 de Dezembro de 1956, titulava-se: "Marcando de cabeça e jogando com mais cabeça".

Estádio da Tapadinha (Alcântara), em Lisboa,

Árbitro: Fernando Valério, de Setúbal,

ATLÉTICO CLUBE DE PORTUGAL: Correia; Pita e Barreiro; Legas, Gonçalves e Orlando; Mesiano, Oliveira, Martinho II, Quaresma, Castiglia. Treinador: Severiano Correia (em substituição do espanhol Gabriel Andonegui, que tinha iniciado a época).

CALDAS SPORT CLUBE: Vítor; Amaro e Abel; Romero, Saraiva e Orlando; Anacleto, Antonio Pedro, Romeu, Sarrazola e Rogério. Treinador: Fernando Vaz.

Primeira parte: 2-0.

Aos 7 minutos, 1-0. Magnífico trabalho de Castiglia na extrema-esquerda, com três dribles sucessivos, concluído com um centro bem medido. MARTINHO II, arracando bem, antecipou-se, de cabeça, à saíde de Vítor, e fez um belo golo.

Aos 29 minutos, 2-0. Orlando (do Caldas), calculou mal o passe ao seu guarda-redes e permitiu que o outro ORLANDO (do Atlético) se intrometesse com oportunidade.

Segunda parte: 0-2.

Aos 12 minutos (57 minutos), 2-1. António Pedro marcou um «canto» na direita e ROMERO, com uma magnífica entrada de cabeça, em voo, obteve um excelente golo.

Aos 32 minutos (77 minutos), 2-2. «Livre» sobre a esquerda, marcado por António Pedro e ROGÉRIO, também em voo, mas desta vez mais jeito do que em força, desviou, de cabeça, a bola ao alcance de Correia. 


CRÓNICA DO JOGO (Jornal "A Bola") A primeira parte, todo ele duma maneira geral foi pertença do Atlético. O início do encontro por parte desta equipa, foi mesmo luzido, «mandão» a subjugar o Caldas em todos os aspectos...O Caldas, por seu lado, talvez acusando as sucessivas mudanças de lugares a que a «lei das lesões» tem obrigado os seus jogadores, mostrava-se desligado, não conseguindo encadear os seus avanços, por falta de interligação...Além, disso, a equipa forasteira, parecia não se dar bem com a velocidade imprimida ao jogo pelos alcanterenses, perdendo quase sempre na antecipação e mostrando-se mais lenta a executar...até ao intervalo a supremacia alcanterense ganhou..evidencia. Parecia, efectivamente, que o vencedor estava encontrado. Contudo...quando o Caldas regressou dos balneários, a equipa parecia outra. Mal o árbitro deu o encontro por recomeçado, logo os visitantes se lançaram para a frente, com uma determinação e uma velocidade que nunca tinham apresentado durante toda a primeira parte. Anacleto, por duas vezes seguidas, primeiro com um pontapé por cima da barra e depois deixando-se desarmar por Legas, no último momento estragou dois ensejos magníficos. O golo parecia estar para cedo...E estava, efectivamente. No período que se seguiu à marcação do golo de Romero, o Caldas dominou insistentemente e criou mesmo, durante esta fase, mais ocasiões de golo do que o Atlético durante todo o seu longo período de domínio. Rogério, Anacleto, Sarrazola e até o defesa Saraiva remataram com intenção em sucessivas ocasiões, admirando como nem um só destes momentos terminou em golo. Finalmente, pouco depois da meia hora, os caldenses chegaram ao empate...após o empate, o Caldas deu sempre a sensação de estar mais próximo do 3-2, do que o Atlético...No entanto, e embora mercê do jogo em «explosão» em que se exibia, o Atlético esteve quase a marcar o terceiro golo que, nessa altura, seria certamente o da vitória, mas Amaro, entre os postes, salvou «in extremis» de cabeça. Mas em justiça não merecia. O empate está muito bom...No Caldas, a defesa...na primeira parte...os seus componentes pecaram por falta de força nos pontapés de desfecho, permitindo que a bola ficasse perigosamente a rondar as cercanias das suas redes. Entre eles, Abel foi o melhor. Romero (a defender) principalmente no jogo por alto, superiorizou-se a Orlando do Atlético. Na linha da frente, António Pedro esforçadíssimo como sempre, foi o que mais mourejou. Sarrazola foi o que demonstrou mais poder e Anacleto e Rogério cumpriram. Romeu denotando falta de qualidades para o lugar pouco combativo, foi o mais discreto.

FIM DA PRIMEIRA VOLTA...E num balanço, a estas 13 Jornadas, o treinador Fernando Vaz afirmava no Jornal "A Bola", na edição de 15 de Novembro de 1956, o seguinte: "Os 9 pontos conquistados devem-se ao espírito de equipa dos jogadores"...dizendo ainda..."Além das lesões o calendário foi muito pesado".
 

Um onze do Caldas da Época 1956-57
que fazia parte da Caderneta intitulada: 
"Caramelos favoritos do futebol. 
Estampas coloridas dos principais 
jogadores portugueses. 1956-1957".