Caldas Sport Clube 1954/55

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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O «penalty» do Caldas - Porto (11 de Novembro de 1956). Quase me apeteceu cortar a mão... - recorda Saraiva

No Jornal "A Bola" de 15 de Novembro de 1956, publicou-se uma pequena entrevista com o defesa (ou médio-centro, pois actuou muitas vezes nesta posição) do Caldas, Saraiva, na abordagem ao lance que deu origem ao penalty, por ele cometido, no jogo Caldas - Porto, que se tinha realizado no domingo anterior (11 de Novembro de 1956, referente à Época 1956/1957). Assim, escreveu-se o seguinte...

E o Porto tornou a não ganhar nas Caldas! (na época anterior, tinha também empatado 3-3 no Campo da Mata, no dia 18 de Março - ver análise do jogo, em 1.ª Divisão - Época 1955/1956 - 2.ª Volta)...Se na época passada, o feito foi já de vulto tendo em mente a categoria dos dois contendores, ambos então espicaçados por pensamentos diferentes, mas convergentes para o mesmo fim - pois se um queria o primeiro lugar, o outro queria não perder, para fugir aos últimos postos... - O feito deste ano, conseguido pela modestíssima turma das Caldas - cheia de «remendos» provocados por outros tantos «mazelados» (e, no próprio jogo, apareceu mais outro - neste caso, o jogador Rogério) - ante a equipa campeã, transcende em muito o que se poderia esperar...[No último domingo] os caldenses dentro e fora do campo souberam reagir da melhor maneira quando a suprema infelicidade - pela «mão» de SARAIVA bateu à porta. Conseguiram que um jogador não se «afundasse» e, assim, contribuíram para a obtenção daquele golo de Garófalo que deu origem a uma das maiores «explosões» de clubismo que temos assistido!.

Pretendemos falar com SARAIVA e que melhor assunto para começar senão aquela «mão» tão inoportuna?

- Olhe - diz-nos ele - quase nem sei como aquilo foi...

E a tentar explicar como se passou «aquilo»:

- Se não me engano, creio que foi o extremo-esquerdo que centrou e eu, ao saltar à bola, instintivamente, levantei a mão a tocar-lhe! Nem sequer me lembrei que estava na grande área!

- Qual a sua reacção perante o acontecido? perguntámos mais.

- Sei lá! Quase me apeteceu fugir do campo, cortar a mão! E desmoralizei um pouco - confesso, para, logo a seguir, acrescentar:

- Mas depois, com o incitamento da nossa massa associativa, a que aproveito para agradecer, por intermédio de «A Bola», consegui reanimar e recompor-me! Mesmo assim, e dado o resultado que conseguimos, ainda hoje me sinto um pouco deprimido e não será difícil esquecer...

 - Não ficou satisfeito com o resultado?

- Satísfeitissimo! Tanto nós, jogadores, como todos os caldenses, creio que temos razão  para estar satisfeitos, pois sempre foi um ponto ganho, e, perdê-lo, seria uma tremenda injustiça, dada a maneira como lutámos e nos esforçámos  de princípio ao fim...

- Quer, agora distinguir algum companheiro? - foi a nossa última pergunta.

- É impossivel fazer distinções, pois todos actuaram o melhor possível. No entanto, quero aproveitar para publicamente, agradecer, a Garófalo o seu acto de boa e sã camaradagem, pois após ter alcançado o golo que nos deu o empate, veio ter comigo para me abraçar, como que a dizer que a minha dívida já se encontrava saldada.  


SARAIVA


NOTA: António da Cruz Pinto SARAIVA, jogou três épocas no Caldas Sport Clube (1956/57; 1957/1958 e 1958/59), tendo-se transferido para o Sport Lisboa e Benfica na época de 1959/60, após o Caldas ter descido à 2.ª Divisão Nacional. No Benfica, acabou por ganhar 3 Campeonatos Nacionais (1959/60; 1960/61 e 1962/63), 1 Taça de Portugal (1961/62) e 1 Taça dos Campeões Europeus (1960/61), tendo realizado 5 jogos nesta fabulosa campanha europeia: 2 jogos com o Hearts da Escócia (2-1 e 3-0); 2 jogos com o Ujpest da Hungria (6-2 e 1-2) e 1 jogo nas Meias-Finais com o Rapid de Viena (1-1). Apesar de fazer parte do plantel benfiquista não participou, em nenhum jogo, na 2.ª campanha europeia vitoriosa encarnada (1961/62). A sua última época no clube da Luz acabou por ser a de 1962/63.

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