Caldas Sport Clube 1954/55

Caldas Sport Clube 1954/55

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Análise da Época 1958/1959: "A Equipa do Caldas ficou aquêm do ponto onde poderia chegar muito por falta de condições fisícas"...afirmava o Jornal "Mundo Desportivo"

Na edição de 01 de Abril de 1959, do Jornal "Mundo Desportivo", o jornalista António Dias analisa deste modo a última Época do Caldas na 1.ª Divisão. Assim: 

"E chegámos nós a pensar que alcançaríamos esta época a melhor classificação de sempre!" - esta exclamação proferida em jeito de lamento por um dirigente do Caldas Sport Clube quando o sopro final do campeonato traçou o destino irremediável da sua equipa...[Mas] o que houve na equipa caldense a par de bom, que tão douradas contas fez deitar, foi um misto de contratempos inesperados, de casos sem solução, de erros, e também de uma inexorável pouca sorte. A não suceder esta nuvem de contrariedades, é provável que a simpática agremiação do Oeste não estivesse neste momento a braços com baixa de divisão e pudesse mesmo alcandorar-se a posição de realce no «Nacional».

UM PONTO CONQUISTADO AO PORTO, BENFICA, BELENENSES E SPORTING...

A face boa do «team» caldense pôde ver-se através de várias facetas iniludivelmente expostas no decorrer de certos momentos do campeonato...Contra o Benfica, logo na segunda jornada, a equipa ganhou alentos extraordinários, e mercê de uma exibição pletórica de vontade e acerto, não foi denotada. Sucedeu o mesmo que os vice-campeões só muito dificilmente conseguiram empatar. Diante do F.C. Porto, também o Campo da Mata, António Pedro e companheiros fazendo gala o mesmo espírito de luta, não permitiram que o valoroso adversário lhes desse a conhecer o travo da derrota, registando-se o empate. No Restelo, enfrentando o Belenenses, com raro estoicismo, só cederam igualmente um ponto. E para completar a sua irreverência contra os quatro «grandes», do mesmo modo fizeram finca pé ao Sporting não deixando levar mais do que um ponto já na última fase do campeonato. Estas inequívocas provas de capacidade patenteadas pelos caldenses, precisamente em confronto com os mais fortes, ilustram sem sombra de duvida que não lhes escasseava arcaboiço para a luta. Levavam mesmo muito longe o seu brio. Basta remomorarmos neste aspecto, que derrotados em casa pela CUF durante a primeira volta, conseguiram, numa arrancada extraordinária, ir a[o Campo de] Santa Bárbara buscar os dois pontos da vitória, saldando assim as contas. Nestes pormenores, embora traçados sem o cunho de regularidade que o Nacional» requeria, se vislumbra a evidência do estofo marcado pelo penúltimo classificado...

KOVACS, O HOMEM DO VERNIZ, FALHOU POR DOENÇA...

Em equipa tão bem talhada para a luta, com acentuado equilíbrio entre os seus sectores da defesa e meia defesa, onde os nomes de Saraiva, António Pedro e Orlando refulgem como primeiras figuras, faltaria porventura algumas «pedras» para o ataque, a fim de lhe transmitirem a indispensável objectividade. Veio primeiro, o húngaro Löcsey [Ferenc]. Sabedor, mas já no declínio, o seu concurso não podia salvar a equipa dessa lacuna, como não salvou. A esperança, depois, passou a ser Kovacs. Em dois jogos que realizava, durante a digressão que o clube efectuou em terras de Espanha, tanto os jogadores como os próprios dirigentes que acompanharam o «team», ficaram radiantes. Estava encontrado o homem ideal para comandar o ataque, o homem que, além de se mostrar  possante e rematador, possuía ainda no seu estilo o verniz do futebol magiar. E nas Caldas bradou-se: «Aqui está o melhor avançado-centro que até hoje pisou os campos portugueses». Mas, como remate de tanto entusiasmo, nem o Caldas nem Kovacs foram felizes...[pois] após duas tentativas em encontros do campeonato teve de desistir atacado de uma ciática lombar, contraída ainda no seu país, mas agravada em Portugal por causa do clima mais húmido [e porventura o tal micro-clima das Caldas da Rainha tenha ajudado a agravar o seu problema!!!...Mas na Época de 1959/1960 continuou a jogar na 1.ª Divisão Nacional, transferindo-se para o Boavista Futebol Clube, que tinha, entretanto, subido de Divisão, realizando 7 jogos, e marcando apenas 2 golos]. O reflexo do inêxito dos dois húngaros que custaram aos cofres do clube, cerca de oitenta contos, no seio da equipa tornaram-se a certa altura bem visíveis. Uma queda moral que obrigou Fabian [o Treinador, também ele romeno ou húngaro] à última medida: alinhar ele próprio para tentar dentro do terreno, remediar o que remédio não tinha. E quando o grupo veio a refazer-se, já a competição ia muito adiantada, com todas as equipas  escorarem-se ante o abismo da despromoção...Mas acontece que apesar de tudo, o Caldas detém um lote de valores que não se coaduna com o 13.º lugar em que se quedou...Que faltou então para que tanto estes elementos como os restantes não deixassem cair a equipa onde caiu? Não nos custa nada apontar a grande deficiência de que o «onze» caldense enfermou ao longo do «Nacional»: a falta de preparação física, mas uma preparação, séria, metódica...Com um guarda redes regular, dois «backs» lutadores como o são Amaro e Anacleto, um defesa central, Saraiva de inegável mérito e dois médios da estatura de António Pedro e Orlando o grupo não terminaria com a particularidade de ser o que mais golos sofreu (76), se de facto os elementos chaves se encontrassem à altura das circunstâncias, fisicamente.


Cartoon satirizando a descida de divisão de
Caldas e Torriense, tendo como legenda: -
São os vizinhos do último andar que foram
postos na rua!. Amanhã sabe-se lá o que
também nos estará reservado! [dizem os do
Barreirense e da CUF]. Fonte: "Mundo Desportivo".

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